Um parque, uma descoberta

Quando era criança eu morava em um prédio pequeno em um bairro bem ruim. Um dia estava tendo um aniversário lá no meu andar, da filha da nossa vizinha de porta. Pelo que eu lembro, tinha mais gente naquele apartamento do que cabia no prédio inteiro. Em um certo momento, não sei por qual motivo, decidi que eu queria sair dali. Estava calor demais, tinha gente demais, e eu já tinha mania, naquela época, de me sentir diferente dos outros. Naqueles dias um parque estava montado a mais ou menos um quilômetro de onde eu morava e eu pensei em ir até lá (esses parques itinerantes existiam aos montes em São Luís, eram baratos, sempre cheios e com segurança quase nenhuma).

Enquanto a minha mãe estava no apartamento da vizinha com meus irmãos, fui ao meu quarto, peguei uns trocados que eu tinha guardado e saí do prédio pra ir ao parque. Eu tinha uns sete anos. Cheguei ao parque, comprei alguns bilhetes para brinquedos específicos e fiquei lá, sozinho, andando no carrossel, na roda gigante e em mais algum brinquedo que não recordo. O que eu me lembro foi de ter me sentido triste, tão triste, e sem entender direito o motivo. Afinal, eu estava fazendo o que queria, não era?

Voltei pra festa. A minha mãe perguntou onde eu estava e eu disse que tinha ficado ali na festa o tempo todo. Ela não acreditou mas também não deu muita bola. Cheguei a tempo do parabéns, comi bolo, ganhei as lembrancinhas e brinquei um pouco com as crianças que estavam lá. Depois fomos pro nosso apartamento e, na hora de dormir, lembro de ficar chorando na cama, incomodado por descoberto que a tristeza que senti no parque vinha de mim, só de mim.

Colagem de David Delruelle