O que aprendi fazendo um episódio de podcast por dia durante 2016

Em 2016 eu decidi tentar mais uma vez realizar um projeto de um ano inteiro. Já tinha tentado com fotografia, música e desenho — e sempre falhei miseravelmente. Eu não tinha, portanto, indício nenhum de que essa tentativa de gravar um episódio todo santo dia durante um ano iria dar certo, mas acabou funcionando.

Claro que escolhi o modelo mais simples possível. A ideia era fazer o Ano Bissexto como um podcast simples, com pouca ou nenhuma edição, gravado e publicado no mesmo dia. O tema, invariavelmente, vinha do meu cotidiano, de leituras ou notícias que eu acompanhava. Apesar da cara de projeto intimista e difícil de agradar, teve muita gente que me acompanhou e é daí que eu tiro o primeiro ensinamento que o projeto me trouxe:

1. Se o que você faz tem o mínimo de qualidade, você sempre terá algum público

Eu comecei a gravar podcasts em 2014, com o Ficções. Depois fiz experimentações sonoras com o SOMA e tentei estender aos meus podcasts a minha atividade docente, fazendo podcasts específicos sobre temas abordados nas minhas aulas (fiz isso com a disciplina de Introdução à Estética, por exemplo). E uma coisa que sempre me travou na hora de fazer um podcast era pensar: “Será que tem um público pra isso?”

Eu sempre quis fazer um tipo de podcast que eu gostaria de ouvir. Mas nunca soube se tinham mais pessoas querendo ouvir as mesmas coisas que eu. O que eu percebi com o Ano Bissexto, e com o retorno que recebi, é que existe um público interessado em conhecer coisas novas e em dar uma chance para o que você faz. Se as pessoas vão gostar e continuar acompanhando o seu trabalho é mais complicado de afirmar, mas tudo é um processo. E falando em processo, vem daí o segundo ensinamento:

2. O processo é mais importante que o resultado final

Isso é algo que eu já pensava, pra falar a verdade. Mas confirmar o que a gente acredita faz a gente se sentir mais seguro com tudo. Uma coisa que eu pensava logo no começo do Ano Bissexto era como seria esse podcast no final de tudo. Em outras palavras, o que eu deixaria como produto pra quem quisesse acessar tudo depois; não seria datado demais, desinteressante demais?

Eu estava vendo os dados finais do podcast e o resultado é bem modesto.Todos os episódios somados deram 23h45m56s, o que significa que a média dos episódios foi de quase quatro minutos. Olha que coisa maluca, eu passei um ano gravando um episódio por dia e no fim dá pra ouvir tudo num dia só. Como disse, eram episódios simples e rápidos, com pouca informação mas com o máximo de reflexão que eu conseguia colocar ali. Se o meu interesse fosse só no resultado quantitativo eu iria me sentiria derrotado, mas o que sinto é exatamente o oposto. Foi muito difícil e ao mesmo tempo prazeroso construir essas quase 24 horas de podcast num ano inteiro.

Em relação aos temas eu percebi, ao final, que fiquei no meu local de segurança, tratando dos temas que me sinto mais à vontade. Foram estes os dez temas mais recorrentes nos 366 episódios: 
1. Cotidiano2. Tecnologia3. Cultura4. Filosofia5. Arte 6. Comportamento7. Internet8. Música9. Sociedade10. Literatura

Mas aqui o importante não foi tanto aprender coisas novas, mas me sentir seguro para expor minhas ideias, compartilhando meu jeito de olhar e entender a realidade. Nesse sentido, o resultado final não é o que mais importa, mas sim o processo pelo qual passei durante todo esse ano, aprendendo a lidar com a disciplina, transformando a rotina em hábito e me comprometendo com as pessoas que me acompanhavam e me davam força para continuar.

E depois?

O projeto acabou e a sensação é estranha, um misto de vitória pela tarefa realizada e frustração pelo vazio que fica. Afinal, depois de um ano inteiro fazendo algo todos os dias é difícil simplesmente se desapegar de tudo.

De qualquer forma, agora eu volto com o Ficções (os outros podcasts vou abandonar de vez) e o que aprendi com o Ano Bissexto vai me ajudar muito, já que deixei o Ficções atrasar muitas vezes (apesar de ser um podcast igualmente simples), apenas porque achava que o conteúdo não valia a pena ou que não ia agradar a ninguém. Não sei se vai agradar a alguém — nunca tenho como saber — mas posso fazer o melhor que eu conseguir e acho que isso já é um resultado bacana pra mim, pelo processo, e para os outros, pela troca e pelas ideias compartilhadas.

2016 foi um ano difícil em muitos aspectos, mas cada pessoa pode ver nele também muita coisa boa — sempre tem, não é? Pra mim, o mais importante foi ter percebido que sempre posso fazer algo melhor, com mais comprometimento, mais entrega. Nesses dias o meu filho (com quem eu gravei alguns episódios sobre jogos) me disse que não entende por que as pessoas se preocupam com o Ano Novo; “É só um dia depois do outro”, ele disse. E não é que é só isso mesmo. =)