Precisamos do livre-arbítrio? A maioria das pessoas, provavelmente, responderia que sim, já que normalmente não queremos aceitar que a nossa vida possa não depender de nossas escolhas. No entanto, nunca saberemos com certeza se somos realmente livres ou se tudo já está determinado. Sendo assim, só consigo imaginar que essa defesa do livre-arbítrio tem mais a ver com autossugestão do que com uma real convicção.
Existem muitas coisas na vida que escapam ao nosso controle; acontece com qualquer um muitas situações em que, apesar de entendermos que temos uma certa responsabilidade, preferimos defender — porque aqui é conveniente — alguma inevitabilidade do destino ou um direcionamento de quem nos lançou nessa realidade. De um jeito ou de outro, é sempre o tema da liberdade que aparece: livre-arbítrio como conforto para eu ter forças pra lutar pelo que quero conquistar e ausência de livre-arbítrio para eu não sofrer com tudo que aconteceu e eu não pude (ou não quis) impedir.
Às vezes penso que a crença na liberdade é um jeito simples de enfrentarmos o fato de que a realidade é um jogo em que ninguém realmente vence. Apenas avançamos mais e mais crendo na promessa de algo melhor que pode vir no final, mas com medo de ir até o fim. Afinal, quem quer realmente olhar através do espelho?
“Transparent God”, escultura em papel de Peter Callesen.