O que todo mundo é

Existe uma tentação comum na vida em sociedade: nos compararmos com os outros. Ou — e isso é até pior — comparar os outros entre si. Implicitamente esse tipo de comportamento denota um pouco da nossa crença e desejo de que tudo seja padronizado, mensurável e seguro. Assim, uma analogia entre pessoas diferentes nos traz a sensação de que existe algo que cada pessoa deveria alcançar; algo que já foi conquistado por outros que, por esse motivo, são colocados como parâmetro para medir o que todo mundo é.

Não foi criança quem não ouviu o seguinte de algum adulto: “Fulano não age assim. Por que você não se comporta da mesma forma?” E ai da criança que responder a essa pergunta com sinceridade! Mas, ficando calada ou não, o fato é que mesmo os pequenos entendem que isso é injusto e faz pouco sentido. Somos diferentes e deveríamos ser entendidos assim.

Schopenhauer escreveu que “ninguém pode ver acima de si” (Aforismos para a sabedoria de vida, 2002, p.204); ou seja, cada um só consegue ver e entender o mundo apenas na medida do que é. Somos capazes de compreender a realidade de acordo com nossa inteligência, caráter e experiências. As outras pessoas possuem outras referências e é natural que vejam o mundo com seus próprios olhos, enxergando coisas e detalhes que não sou capaz de alcançar.

Mas isso não significa que precisamos ficar fechados em nossa própria realidade. O diálogo é benéfico e podemos sempre ampliar nosso campo de visão a partir do contato com outras ideias e pessoas. O que não precisamos é ouvir o mundo dizendo que devemos ser outras pessoas. Ninguém pode ser o que não é, nem mesmo quando muda.

“Blown away”, escultura de Jim Bond