Na década de 1930 Walter Benjamin escreveu uma série de listas inspiradas pelo número treze (A técnica do escritor em treze teses, Treze teses contra esnobes, A técnica do crítico em treze teses, No.13, O caminho do sucesso em treze teses). Essas teses estão publicadas em português no livro Rua de Mão Única.
Aqui apresento a primeira delas (A técnica do escritor em treze teses). São ponderações sobre a escrita, o espaço em que se escreve, o comprometimento com o texto e com a coragem de seguir em frente. E, ainda que a gente discorde da lista dele, acho que vale a pena ter contato com ela para elaborarmos — ainda que mentalmente — a nossa própria lista de coisas essenciais para a escrita.
No episódio 153 do meu podcast Ano Bissexto eu comento algumas das teses:
Ano Bissexto #153 - A técnica do escritor em treze teses (de acordo com Walter Benjamin)
_A técnica do escritor em treze teses (de acordo com Walter Benjamin). As treze teses. * Mais informações sobre os meus…_www.marcosramon.net
Leia aqui a lista completa do Benjamin:
“1. Quem se propõe a escrever uma obra de grande envergadura deve ser indulgente consigo mesmo e, ao terminar sua tarefa diária, deve se conceder tudo aquilo que não prejudique a continuidade da mesma.
2. Fale sobre o já realizado, de todas as maneiras, mas não leia nenhuma passagem a ninguém do trabalho em progresso. Qualquer gratificação que você obtenha dessa forma irá retardar o seu tempo. Se seguir o conselho, o desejo crescente de comunicação tornar-se-á, ao cabo, um motor para a conclusão do trabalho.
3. Nas suas condições de trabalho, evite qualquer tipo de mediocridade cotidiana. O estado de semirrelaxamento, com o fundo de sons triviais, é algo degradante. Ao contrário, o acompanhamento de uma peça musical ou mesmo um murmúrio de vozes pode tornar-se tão importante para o trabalho como o silêncio da noite. Se este afia o ouvido interior, aquela age como pedra de toque para uma dicção ampla o suficiente para enterrar em si mesma qualquer ruído, mesmo o mais excêntrico.
4. Evite utilizar materiais escolhidos ao acaso para escrever. O apego pedante a certo tipo de papel, caneta, tinta é benéfico. Sem luxos, certa abundância desses objetos é imprescindível.
5. Não deixe nenhum pensamento passar desapercebido. Mantenha seu caderno de notas tão rigorosamente quanto as autoridades guardam seus registros de estrangeiros.
6. Deixe sua pena longe da inspiração, que passará, então, a atrair com força magnética. Quanto mais circunspecto você for, ao anotar uma ideia, tanto mais madura e plenamente ela se entregará. A palavra conquista o pensamento, mas a escritura o domina.
7. Nunca pare de escrever por esgotamento de ideias (quando nada mais lhe ocorre). A honra literária exige que se pare apenas quando se tenha que respeitar algum compromisso previamente marcado ou algum prazo (um jantar, um encontro), ou o fim do trabalho.
8. Preencha as lacunas da inspiração passando a limpo cuidadosamente o que já tiver sido escrito. A intuição despertará no processo.
9. Nulla dies sine linea [Nenhum dia sem uma linha] — mas semanas, sim.
10. Não considere acabado nenhum trabalho sobre o qual você não se tenha detido alguma vez da noite até a manhã seguinte.
11. Não escreva a conclusão de sua obra no lugar em que habitualmente trabalha. Não encontrará lá a coragem para fazê-lo.
12. As etapas da composição: ideias — estilo — escritura. A vantagem de passar a limpo é que, ao fazê-lo, você fixa a atenção apenas na forma da escritura. A ideia mata a inspiração, o estilo acorrenta a ideia, a escritura remunera o estilo.
13. O trabalho é a máscara mortuária de sua concepção.”
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