Não é raro criticarmos pessoas que dizem acreditar em uma coisa mas acabam agindo de maneira completamente distinta. Às vezes é alguma uma incoerência dificilmente perceptível, em outras algo gritante, mas trata-se sempre de algo mais comum e natural do que seu inverso. Gostamos de pensar que existe um total controle da razão em nossa existência e que a lógica é o nosso caminho preferido e necessário. Mas, tirando os casos extremos, que por motivos óbvios chamam muito a atenção, iremos sempre ver pessoas defendendo ideias que são incapazes de seguir.
Pensei sobre isso hoje lendo Bertrand Russell. Em sua História da Filosofia Ocidental, ele disse o seguinte sobre Schopenhauer e sua doutrina:
O evangelho da resignação de Schopenhauer não é muito coerente nem muito sincero (…) É difícil crer que um homem que estivesse profundamente convencido da virtude do ascetismo e da resignação não houvesse feito nenhuma tentativa para levar suas convicções à prática.
Essa é uma observação natural entre todos que leem a obra de Schopenhauer e depois buscam dados de sua biografia. Como pode tamanha incoerência, como pode alguém falar sobre algo que não tentou realizar? Contudo, podemos igualmente nos perguntar quantos de nós seguem seus princípios até o fim, sendo coerentes com suas crenças e ações. Claro, nem todos terão escrito o que acreditam e terão passagens de sua biografia disponíveis para a análise acadêmica, o que faz toda a diferença na percepção que temos do todo da humanidade.
Se eu tivesse que fazer uma aposta, apostaria que ninguém é realmente coerente em tudo, o tempo todo. E, se encontrássemos alguém assim, teríamos que dizer que esse alguém não é humano, mas algo diferente de tudo que se conhece e entende. E quem, pelo amor de Deus, gostaria de ser assim?
Gráfico que representa o pessimismo, criado pelo Studio Carreras para a série Philographics.