Vincent Van Gogh nasceu na Holanda, no dia 30 de Março de 1853 e morreu na França, no dia 29 de Julho de 1890, dois dias depois de ter dado um tiro no próprio peito.
Van Gogh era filho de um pastor protestante e teve mais cinco irmãos, sendo o seu irmão mais novo, Theo, o grande incentivador e patrocinador de sua arte. Com 16 anos Vincent foi trabalhar como aprendiz em uma empresa francesa de negociantes de arte, Goupil & Cia, por influência de um tio que trabalhava nesta empresa. Importante ressaltar que o trabalho de Vincent era como assistente de negócios e não como artista. De qualquer forma, essa experiência foi importante por lhe colocar em contato com os trabalhos mais recentes dos grandes artistas da Europa. Como parecia ter tino para o comércio, ele foi transferido para a filial de Londres em 1873. Van Gogh tinha então 20 anos.
Em 1875 ele foi transferido mais uma vez, agora para Paris, mas acabou sendo demitido em 1876. Sabemos pela correspondência entre Vincent e Theo, que Vincent queria se tornar pastor protestante, assim como o pai, e de fato viveu durante algum pouco tempo como pregador em comunidades de trabalhadores na Bélgica. Mas o seu trabalho não foi bem recebido e o próprio Vincent tinha dúvidas sobre a sua aptidão como pastor. Foi nesse momento que Theo — que era também um negociante de arte, trabalhando na mesma empresa em que Vincent havia trabalhado — sugeriu ao irmão mais velho que se tornasse um artista.
Apesar de ter desenhado desde a infância Van Gogh nunca tinha se dedicado o suficiente para se encarar como um artista. Além disso, ele já tinha 27 anos e talvez fosse tarde demais para se iniciar em uma carreira como essa. O que sabemos, contudo, é que Vincent acatou a sugestão do irmão e passou boa parte dos próximos anos se dedicando ao aprendizado da arte. Como não tinha nenhum meio objetivo de subsistência, fez um acordo com Theo: Vincent lhe enviaria boa parte de suas pinturas e desenhos em troca de ajuda financeira.
Em 1885 Vincent pintou aquela que é considerada sua primeira grande obra: “Os comedores de batata”. Aqui ele pinta a vida camponesa e demonstra um interesse pelos temas sociais. Além disso, nessa fase de aprendizado, Van Gogh faz alusões muito claras a alguns dos artistas que admirava, inspirado em outros pintores que também utilizaram como tema famílias camponesas diante da mesa. É exatamente isso que acontece também com as diversas versões do “semeador”, que começaram como um estudo e não como um tema original. No entanto, nesse caso, como nos outros, é possível perceber como Van Gogh não estava apenas copiando para aprender a pintar, mas também se apropriando do tema à sua maneira.
Sobre os “comedores de batata” — que é, sem dúvidas, um quadro impressionante, mas muito diferente de tudo o que Van Gogh fez depois -, sabemos que Vincent o enviou a Theo que, depois de ver o quadro, escreveu ao irmão dizendo: “Acho que você deveria vir para Paris”. Van Gogh foi. E essa viagem o mudou para sempre.
Van Gogh chegou à capital francesa em 1886 e teve contato com as cores dos impressionistas, a possibilidade do uso experimental das cores e dos traços fortes tomou conta dele. Além disso, ele percebeu que os impressionistas também compartilhavam de sua paixão pelas estampas japonesas, o que lhe aumentou o desejo de se dedicar ao estudo destas pinturas e gravuras. Mas para Van Gogh, que tinha um temperamento difícil e imprevisível, aquilo que parecia demais e seu comportamento ficou instável. Theo sugeriu que ele fosse para o sul da França, para se afastar um pouco da movimentação da cidade. Ele foi então para Arles e lá, reencontrou o seu tema principal, aquele que o acompanhou na maior parte de sua obra: a natureza e a vida camponesa. Van Gogh ficou em Arles por catorze meses e produziu cerca de duzentas pinturas, dentre algumas de suas mais importantes: A casa amarela, O semeador, Girassóis num vaso, Noite estrelada sobre o Ródano e O quarto.
Foi por esse época que Van Gogh recebeu Paul Gauguin, em um ambiente inicialmente amistoso de compartilhamento de ideias e técnicas, mas que terminou de forma trágica, com o famoso episódio em que Van Gogh cortou fora parte de sua própria orelha. O que exatamente o motivou para fazer isso é algo difícil de entender, e qualquer tentativa de explicação aqui seria vaga. Mas, como já disse, Van Gogh tinha um temperamento difícil. Dois dias depois do episódio do corte da orelha, Gauguin foi embora e Van Gogh foi internado em um hospital.
Mesmo com a saúde fragilizada e com rompantes de humor, algo que não se pode deixar de observar era o esforço de Van Gogh para viver em função de sua arte, transformando até mesmo sua dor e seu sofrimento em formas de expressar tudo o que ele vivia:
- “Quero chegar ao ponto em que as pessoas digam sobre o meu trabalho: ‘Esse homem sente profundamente’”
- “Anseio por fazer tais incorreções, tais desvios, remodelações, mudanças na realidade, para que elas possam se tornar, bem, mentiras, se você quiser, porém mais verdadeiras que a verdade literal”
Em 1889 Van Gogh se internou voluntariamente em um hospício em Saint-Rémy. Nesse período ele continuou pintando e seu trabalho passou a ser comentado de maneira mais intensa pelos artistas parisienses. Contudo, mesmo com o reconhecimento por parte de outros artistas, Theo conseguiu vender apenas um de seus quadros, A vinha encarnada. O quadro foi pintado em 1888 e vendido em 1890. Foi único quadro de Van Gogh que foi vendido durante sua vida. E ele produziu mais de 800 obras.
A vinha encarnada, Van Gogh
Em Maio de 1890 Van Gogh abandonou o hospício e foi para o norte da França. Foi lá que, no dia 27 de Julho, ele deu um tiro no próprio peito. Morreu dois dias depois, com seu irmão, Theo, ao seu lado. Theo sofreu muito com a morte do irmão e morreu apenas seis meses depois, com complicações de saúde, provavelmente ocasionadas por causa de um caso de sífilis.
Quando Van Gogh morreu, Theo se viu com um grande coleção de obras do irmão, entre pinturas, gravuras, desenhos, cadernos e cartas. Theo estava dedicado a honrar a memória do irmão, mas sua morte prematura acabou impedindo seu planos. Felizmente a esposa de Theo, Jo, tomou para si essa tarefa e juntamente com o filho dela e de Theo, também chamado Vincent, assim como o tio, cuidou para que a coleção de arte da família se tornasse um dos maiores legados da humanidade. Foi justamente Vincent, o sobrinho, que trabalhou na criação do Museu Van Gogh, ativo em Amsterdã, desde 1973.
“Muitas vezes eu disse que esse homem iria ou enlouquecer ou nos ultrapassar. Não previ que faria as duas coisas.” (Camille Pissarro)
Van Gogh — Amendoeira em flor, 1890