A felicidade pelo caminho

Aristóteles escreveu que toda ação humana tem com fim a felicidade. Não interessa o que a gente faça, o nosso objetivo final é simplesmente ser feliz. Na maior parte do tempo eu quero acreditar nisso. Primeiro porque explica o nosso egoísmo latente (“quero tudo pra mim, pra minha satisfação!”). Depois, porque mostra que o erro está na falta de planejamento e não no que queremos alcançar. Buscamos algo bom, mas tentamos chegar lá por um caminho ruim. No final, é como se as más ações (a maioria delas, pelo menos) não se tratassem de maldade inata, mas de escolhas mal feitas.

Mas aí eu me lembro de coisas absurdas que presencio, e acabo me sentindo tentado a questionar a tese aristotélica. Se todo mundo só quisesse ser feliz, por que tanta gente se esforçaria para estragar a vida alheia — e a própria, por tabela? “Essa é a felicidade deles”, alguém pode dizer. Mas não é meio óbvio que comprar briga com todo mundo só traz transtorno?

Não dá pra entender que exista uma meta de felicidade na quantidade de despropósito que se vê todo dia. Gente amargurada, brigando pra ver tudo dar errado. Não é a felicidade que se busca, mas é sempre o sonho da felicidade que nos resta.

Ilustração de Jim Tsinganos

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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