A internet e o olhar dos outros

De alguma forma as pessoas parecem acreditar — ou querem acreditar, não sei bem — que a presença na internet não é algo tão sério assim. Dizer o que se pensa, de maneira agressiva e sem medir minimamente as consequências na internet, não é o mesmo que fazer um comentário em uma mesa de bar entre amigos. “Mas o Facebook e o Twitter fazem parte da minha vida privada”, muitos vão dizer. Contudo, não acredito que essa separação entre o público e o privado funcione na internet da mesma forma que fora dela. Por exemplo, quantas vezes você já não ouviu uma conversa absurda em um ônibus ou na mesa ao lado da sua? E você se meteu na conversa? Brigou com as pessoas que estavam ali? Provavelmente não. Então, é quase a mesma coisa, mas é exatamente no quase que mora toda a diferença.

Esse tipo de conversa estranha que a gente presencia na rua deixa poucos rastros e nós mesmos nos esquecemos dela pouco tempo depois. Já o que postamos no Facebook ou em nossos blogs deixa uma marca difícil de apagar. Ali expressamos opiniões que aderem às opiniões dos outros de maneira praticamente imediata. E aí está o problema: precisamos de tempo para compreender o outro, para compreender o que ele diz e como diz. Mas a internet é o lugar da rapidez, do imediato. Aqui, não há tempo para refletir.

Não há comunicação sem vivência do tempo: do tempo para se falar, para se compreender, para ler um jornal ou um livro, para ver um filme independente das questões de deslocamento. Sempre há uma duração em um ato de comunicação. O computador, na sequência da televisão que por sua presença nos lares já reduzia os deslocamentos, acentua pela rapidez a ideia de uma possível diminuição das exigências do tempo. Comprimindo-o até quase anulá-lo. (Dominique Wolton, em Internet, e depois?)

Essa ponderação de Dominique Wolton ainda é atual — ele escreveu isso em 2000 — e mostra como a internet não deixou de ser um mistério, mesmo para aqueles que acham que entendem o que fazem nela. O texto O que você posta na internet também é parte do seu currículo, do Diogo A. Rodriguez, vai nessa mesma linha e nos alerta para algo que pode comprometer nossa vida profissional. Afinal, você deixa um rastro de tudo o que você é na internet. E se você escreve algo de maneira rápida e despreocupada, saiba que a reação das pessoas ao que você disse pode acompanhar o mesmo ritmo: vão te julgar rapidamente e te classificar como alguém que é capaz disso ou daquilo, identificando pensamentos e opiniões que nem você sabia que tinha.

Então, sim, tudo o que fazemos na internet faz parte do nosso currículo. Um currículo grande, contraditório e confuso, cheio de incoerências e com informações que pesam contra a gente. Portanto, todo cuidado é pouco e todo tempo que se ganha refletindo e ponderando antes de postar alguma coisa vale a pena. O inferno são os outros, já escreveu Sartre. Mas na internet, esse inferno é bem maior.

Ilustração de Pawel Kuczynski