A vida está repleta de coisas com as quais podemos nos encantar, mas quem tem tempo para a admiração, para o desleixe e para a beleza? De todas as coisas boas que ganhamos com o avanço da técnica — e são muitas, sem dúvida alguma — talvez a mais ambígua tenha sido o controle do nosso tempo e dos nossos corpos. Vivemos em uma sociedade que é obcecada pelo controle, e é através desse controle que conseguimos tornar a vida prática tão funcional e nossos dispositivos (eletrônicos, sociais, políticos) tão eficientes.
A eficiência é boa e quase tudo o que a técnica nos permite, também. Mas perder o gosto, ou o direito, de olhar as coisas com calma, sem pressa, é algo que devemos lamentar. Afinal, por que, senão por um saudosismo do que sabemos que é bom, gostamos tanto das leituras e dos filmes que nos tiram de nossa própria vida? É um jeito, o único jeito, que temos para viver o sonho de uma vida mais absurda e, paradoxalmente, mais natural. Temos saudades de nós mesmos.
Pintura de Albert Guasch