Quando começa e quando termina?

Não sou adepto dessa história de que o ano começa depois do carnaval. Todo mundo faz um monte de coisa antes do carnaval, e dizer que nada de importante aconteceu antes é só um jeito de atrasar coisas que você sabe que deveria fazer. Além disso, essa medida do tempo é só uma ilusão. Cada dia é um dia e o tempo não para pra esperar a gente se decidir. Defender a ideia de que um ano começa (ou termina) em uma data específica é uma maneira simples de fingir não se importar com o fato de que a gente é finito.

A verdade — a dura verdade — é que a maioria de nós, brasileiros, não entendemos as nossas obrigações (e dentre elas, o trabalho) como algo importante e necessário. E não estou falando de gostar. Eu sei que a maioria das pessoas não gosta do que faz pra viver, mas essa é uma circunstância da vida e desprezar o que fazemos não vai deixar a nossa vida melhor.

Eu, por exemplo, nunca sonhei em ser professor. Quando eu era criança, eu certamente não coloquei essa profissão em nenhuma lista de “quando eu crescer…”, mas isso não faz eu me importar menos com o que eu faço.

No ano passado, ouvi um colega de trabalho dizendo (pra alguém que perguntou se estava tudo bem com ele): “Eu tô bem. Mas a merda é ter que entrar em sala pra dar aula. É isso que estraga a minha vida”. Esse é o tipo de cara que diz que o ano começa só depois do carnaval, o tipo que quer feriado o ano todo e que mesmo quando trabalha faz de tudo pra não trabalhar.

Não sou contra feriados e nem sou um workaholic. Aliás, se eu pudesse não trabalhar por sobrevivência eu não trabalharia; e imagino que qualquer pessoa sensata faria o mesmo. Mas o que acho injusto é ver pessoas que não podem abrir mão do trabalho — por qualquer motivo que seja — usando qualquer tipo de desculpa para justificar a ausência de comprometimento que mostram com a profissão que possuem. É isso que me incomoda. Com ou sem carnaval, feriado, folga…

Ilustração de Christoph Niemann