Pessoas e horários

Tem dias em que pego o metrô bem cedo para ir ao trabalho. Nesses dias me encontro no meio de grupo bem heterogêneo. Estudantes e trabalhadores ocupam os vagões apertados. Todo tipo de gente triste, expressões cansadas, olhares pesados — de sono e de descaso com a vida. No geral, são pessoas simples, vestidas de forma modesta e quase indiferentes uns com os outros, não por presunção, mas por estarem absortas demais com a dinâmica de suas próprias vidas. E assim, enquanto o metrô faz seu caminho, as pessoas entram e saem dos vagões quase ser deixar rastros. Cada um mal olha para os outros, e a vida se encaminha de forma tediosa como no dia anterior, e como em todos os outros.

Já em outros dias, pego o metrô um pouco mais tarde e encontro um outro público. Homens de terno, engravatados, e mulheres de salto alto, bem maquiadas e com expressão inalterada. O clima é diferente. O vagão é menos cheio, mas o incômodo de todos parece maior. Apesar de pouco sinal de cansaço, a expressão de todos ainda denuncia que a vida guarda seus entraves e desesperanças. Mas o que move as pessoas aqui — a maioria, pelo menos — parece uma sensação de ser mais, de poder mais do que os outros.

Engraçado essa separação social, estabelecida por horários e circunstâncias de uma ida ao trabalho ou a outros afazeres em um transporte público. Pessoas são só pessoas, até que se mostrem na interação com as outras. E eu, de longe, querendo ser só um espectador isento, me entendo deslocado de um mundo em que ninguém está realmente presente, ninguém está realmente disposto. Mas quem é que, por opção, se sente realmente parte da vida em comunidade?