Desejo e realidade

Às vezes queremos tanto que determinadas coisas aconteçam que as imaginamos como fatos. E isso não é tão estranho quanto parece. Afinal, é daí que vem a fonte de quase toda criação artística. Boa parte da ficção que se produz tem a ver com isso, com nossa vontade de ver aquilo que nos encanta de um jeito que a realidade não comporta. A nossa vida pode ser interessante e incrível aos olhos de um escritor, mas estamos tão ocupados com tudo o que fazemos que não conseguimos encontrar a poesia e a mágica que os outros podem ver no que fazemos e sentimos.

Em um momento de Pergunte ao Pó, John Fante escreveu: “Não era realmente uma mentira, era um desejo”, como se o que separasse o desejo da mentira fosse só um acaso, uma entonação. E eu acredito nisso. Acredito que as verdades são simples demais, fáceis demais, quase impossíveis de entender. Ninguém consegue querer a verdade o tempo todo. E é por isso que temos o cinema e a literatura e os videogames. Queremos uma realidade diferente da nossa, mas que ainda assim nos emocione, que nos faça sentir humanos e capazes de entender o que queremos. Mas o cinema, a literatura e os videogames são mentiras — ou desejos, dependendo do seu ponto de vista. Se fôssemos obrigados a escolher entre o desejo e a realidade, o que você acha que a maioria escolheria? (A resposta que eu daria está nesse filme)

Ilustração de Mark Conlan