Outros sonhos

Ninguém gosta de pensar em si mesmo como um objeto, como alguém que existe para os outros, sendo explorado e manipulado para interesses que não os seus. Mas, independentemente de nossos desejos, a realidade é assim.

Cada um de nós aceita o jogo social de tratar os outros como coisas e nos submetemos a esse mesmo esquema diante de outras pessoas e corporações. Claro, não dizemos isso para nós mesmos, de frente para o espelho ou em nossas orações. Mas não fazemos isso por uma questão de pudor, e só. No final das contas, queremos acreditar que nada disso é tão ruim assim. Que antes (em alguma época sem memória) era pior, porque as pessoas eram livres e miseráveis e a vida era terrível e cheia de dor. Hoje, pelo menos, temos distrações e a vida, se não passa mais rápido (e não passa mesmo, já que vivemos cada vez mais), pelo menos parece agradável.

Escrevo aqui meio em tom de crítica e sarcasmo, mas o fato é que nem sei direito em que acredito. O que sei é que não quero pensar em mim mesmo como um objeto em meio a tantos produtos, alguns conscientes e outros nem tanto. Quero acreditar que sei o que faço e que conheço os motivos que me movem. Por isso, ainda acho que a melhor solução pra tudo é encarar a vida que temos com o melhor e o pior que ela tem. Não temos outra vida, mas podemos ter outros sonhos e lutar por eles. Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, mas dormir hoje tendo a vontade de chegar em algum lugar é um direito que todo mundo devia ter.

Gif criado por Andrey Kasay