Uma forma interessante de entender a vida é pensar a realidade como uma colagem, uma junção de coisas aleatórias que, eventualmente, adquirem sentido. E não digo isso por pensar que viver é um desespero ou um suplício, mas por entender que a vida não precisa ter coerência e ordem para guardar alguma beleza (aliás, acho mesmo é que a beleza está no acaso).
Para quem segue um dia depois do outro, passando pelas adversidades, dificuldades — mas também alegrias de existir — , o sentido das coisas só surge depois. É olhando para o passado que formamos uma imagem que acreditamos ser coerente com a realidade. Mas ninguém lembra realmente do que aconteceu, se é que aconteceu.
Lembrar é um trabalho de quebra-cabeça, é juntar os pedaços em busca de ordem e verdade. Contudo, o que é a verdade diante da possibilidade de inventarmos qualquer coisa, de sermos o que quisermos? O melhor da colagem é poder juntar o impossível. Com a vida é a mesma coisa.
Colagem de Deger Bakir