Os contos e suas releituras

Admiro bem mais os autores de contos do que os que escrevem romances. Mais impressionantes ainda são os que conseguem fazer bem as duas coisas, como Neil Gaiman, por exemplo. De qualquer forma, é sempre no conto que me vejo mais absorto e surpreendido.

Não sei se é o fato de o conto exigir do escritor técnica e clareza para fazer a sua história caminhar por conta própria em poucas páginas ou a observação, já feita por Harold Bloom, de que “os melhores contos requerem releituras e por elas nos recompensam”. Provavelmente esse último deve ser o fator determinante.

Mais do que ler, considero importante reler. Mas voltar a um romance, principalmente aos mais extensos, é sempre difícil e dispendioso. A vida é curta, apesar de tudo, e existem sempre outras leituras para fazer. Assim, o conto satisfaz a minha necessidade de redescobrir palavras e sensações. Não sei dizer quantas vezes voltei ao absurdo das Ficções de Jorge Luis Borges ou ao encanto surreal de A coisa e outros contos de Alberto Moravia. Só o que sei é que cada vez traz novas descobertas e novos sentidos. Um desejo: saber escrever contos.

Instalação de Airan Kang. Foto de Jon Dascola.