Desde o século XIX a ideia de progresso parece ter se tornado uma obsessão para a sociedade ocidental. O ritmo das mudanças tecnológicas — em conjunto com inúmeras transformações sociais — consolidou o modelo de mundo em que vivemos hoje: muita informação, muitos bens disponíveis e uma busca quase insensata pelo prazer e pela satisfação.
Falando isso pode até parecer que não importo com o entretenimento e com as circunstâncias do consumo, mas é exatamente o oposto: justamente por que me importo muito com essas coisas é que me vejo deformado no espelho, criticando um mundo que nada mais é do que uma síntese das coisas que eu admiro e busco. E isso acontece, acredito, porque o progresso que alcançamos na política, na ciência, na elaboração de legislações, etc, acaba nos cegando para o compromisso que cada um de nós precisa ter consigo mesmo e com os outros.
Uma das coisas mais celebradas da modernidade é sentido de autonomia do indivíduo, simbolizado pela emancipação política, pela luta por direitos civis individuais e pela valorização da iniciativa própria. São coisas valiosas, sem dúvida alguma, mas que não podem limitar nosso olhar diante da realidade. Autonomia não pode ser apenas “eu posso comprar o que eu quiser com o meu dinheiro”. Da mesma forma, o discurso político precisa ser lembrado como um posicionamento que exige a presença do indivíduo na coletividade. E se “ser para os outros” parece demais, “ser com os outros” traz a medida certa para uma vida autoconsciente. Com tanto progresso, sentimos, erroneamente, que não somos realmente necessários, que o mundo vai chegar no lugar que precisa sem nosso esforço. E não é bem assim…
Grafite feito por Anders Gjennestad