Parece que é da natureza humana gostar de falar — e escrever — sobre tudo, mais ou menos isso que eu faço aqui, jogando opiniões e pensamentos pra todos os lados, esperando que alguma coisa (não sei bem o quê) faça sentido. Mas na maior parte das vezes, sinto que poderia abrir mão de dizer o que penso porque, oras, o que eu tenho pra dizer não é, nem de longe, algo tão importante assim.
Mas eu sempre volto pro mesmo lugar: se tenho vontade de dizer algo, faz sentido eu me privar de falar o que eu penso para dar lugar a um silêncio que não significa nada? Só que o silêncio pode dizer muita coisa. E aí está a diferença entre falar só por falar e fazer silêncio na hora certa.
O que fica nas entrelinhas às vezes pode ser bem mais interessante do que aquilo que é dito com todas as letras. Sim, todo mundo acredita que tem algo a dizer sobre qualquer coisa — o que é terrível, já que só fazemos isso porque nos sentimos muito capazes e autossuficientes em relação àquilo que dizemos. No entanto, principalmente fora da internet, existe uma habilidade que deveria ser mais valorizada: saber dar tempo para simplesmente ouvir o que outros dizem, sem revidar a todo instante. Algo similar no contexto da internet seria evitar entrar em uma discussão no Facebook ou no Twitter por qualquer motivo. Mas o que é exatamente qualquer motivo? Se vejo algo errado, ou injusto, devo simplesmente calar? E acho que você já vê o mesmo problema que eu: ainda que o silêncio seja necessário e diga muita coisa, não dizer o que se quer é permitir que os outros se transformem no único discurso sobre aquele tema. A grande vantagem de nossa época é termos a possibilidade de dizer o que pensamos, compartilhando ideias, frustrações e experiências. Faz sentido abrir mão disso?
Ilustração de Martino Pietropoli