Estava indo para o trabalho e peguei o caminho errado. Deixa eu explicar melhor: aqui em Brasília algumas vias mudam de sentido em determinados horários de pico. Eu estava indo para o trabalho no contrafluxo do trânsito de fim de tarde, mas esqueci do detalhe que mencionei antes e acabei indo na direção de uma via que estava invertida naquele momento. Tive que voltar e como só tinha um caminho pra fazer o retorno, me vi, repentinamente, preso em um engarrafamento gigante.
Fiquei quase 20 minutos no engarrafamento até conseguir voltar ao caminho correto. Sem poder fazer nada, fiquei observando a noite chegando e a expressão de cansaço das pessoas que emparelhavam o carro delas com o meu. Alguns ouviam música, outros mexiam no celular, uma mulher estava lendo algo que parecia uma apostila de concurso.
Era irracional ver aqueles carros e pessoas ali (eu incluso, claro). Mas ao mesmo tempo, um engarrafamento já é algo tão próximo de nós que é como se essa cena fosse parte da paisagem urbana. Daí pra alguém dizer que estranho seria não ter engarrafamento é um passo, e um sinal de que estamos enlouquecendo coletivamente, esmagados pelas rotinas e obrigações.
Depois de pensar tudo isso, percebi que o trecho lotado de carros que me impedia de pegar o caminho correto estava acabando. Escapei do congestionamento e segui meu caminho para o trabalho normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Cena do clipe da música “Everybody Hurts”, do R.E.M.