Necessidades básicas

Todas as pessoas possuem necessidades. E mesmo quando elas são comuns à maioria de nós — a necessidade de alimento, por exemplo — nós conseguimos nos diferir em relação à prioridade que elencamos para escolher esta opção e não aquela. Isso acontece quando alguém opta por jantar em um local de prestígio pelo prestígio — e não pelo sabor — ou quando alguém decide se alimentar com algo que considera ruim só porque é nutritivo.

E é aí que a cultura se torna diversa; e nossas circunstâncias, cada vez mais peculiares. No entanto, apesar de todas as diferenças culturais, das razões lógicas e das paixões, eu continuo acreditando que devemos estabelecer prioridades para além do básico. Isso, claro, não tem a ver com a pessoalidade de qualquer um, com interesses ou preferências que eu tenho o que você adote, mas sim com uma perspectiva de entender melhor a vida que temos.

Criação de Wendy Macnaughton

Sobre esse tema, eu concordo com o que está nessa imagem, criada pela artista Wendy Macnaughton. Comida, abrigo e amor são realmente as coisas mais necessárias da nossa vida. Mas existe algo supérfluo que é extremamente essencial para todos nós: a arte. Sem comida, abrigo e amor eu não existiria. Mas sem arte, apesar de existir, eu veria menos sentido na vida, e aproveitaria com menos intensidade o que ela é. Não consigo nem mensurar a importância da música, da literatura e do cinema na compreensão que eu tenho da minha própria existência. Só o que sei é que a arte é aquilo que eu poderia viver sem, apesar de não querer abrir mão dela.

Sim, todos nós poderíamos viver sem arte, e é por isso que Oscar Wilde escreveu, no prefácio de O Retrato de Dorian Gray, que toda arte é absolutamente inútil. Mas como não reconhecer a vitalidade dessa coisa inútil?

Devemos lutar pelo básico, porque a vida precisa, em primeiro lugar, ser vivida. Mas depois precisamos recorrer à arte para não nos afundarmos na funcionalidade e na praticidade de tudo. Afinal, é a arte que nos torna mais humanos, mais conscientes de nós e dos outros. No fim, penso que é tudo um jogo de equilíbrio. Equilíbrio entre a loucura e a sanidade, entre a verdade e a arte. E se tiver que perder o equilíbrio, escolha a arte. Sempre a arte.