A Nintendo continua a mesma — ainda bem

Em 2013, com apenas um ano de lançamento do Wii U, eu escrevi um texto defendendo que a Nintendo era a empresa mais relevante do mercado de consoles de videogames. E ainda penso a mesma coisa. Inclusive o argumento continua o mesmo: a Nintendo é a única empresa que se ocupa, realmente, com o público infantil — ainda que seus jogos não sejam só para crianças, como alguns dizem.

Sony e Microsoft fazem consoles e jogos, principalmente, para pessoas da minha geração; gente que, quando criança, jogou Atari, nintendinho, Super Nintendo e Mega Drive e que hoje tem poder aquisitivo para decidir que console comprar e em que jogo investir. E isso é fantástico! É muito bom o fato de que os videogames são cada vez menos vistos como coisa de criança. E é justamente por isso que jogos como Last of Us, GTA V e The Witcher conseguiram se transformar em clássicos modernos, não só dos games mas da cultura pop como um todo.

No entanto, como ficaria a próxima geração de gamers sem o incentivo de uma empresa como a Nintendo que, tanto no segmento dos portáteis como no dos consoles de mesa, insiste em jogos mais amigáveis para todos? O que quero dizer é que é necessário que novos jogadores apareçam, e esses jovens jogadores precisam de consoles que os vejam como consumidores em potencial, produzindo para eles e não esperando que eles apenas joguem os jogos dos pais. Veja, por exemplo, as listas do Metacritic com os melhores jogos para PS4, Xbox One e Wii U. No top 10 das listas do PS4 e do Xbox One a maioria esmagadora de títulos não são indicados para crianças, enquanto no Wii U, por motivos óbvios, acontece justamente o contrário. E olha que não estou nem falando do 3ds, porque aqui a Nintendo é soberana levando seus jogos sempre para todos os públicos.

Quando digo isso não quero voltar à ideia da infantilização do videogame. Como disse antes, acho fantástico que hoje parte da indústria produza games com narrativas mais complexas focadas no público adulto. Mas isso não pode chegar ao ponto em que se desconsidere quase que completamente o público infantil. Agora, se você compra um PS4 para o seu filho de 7 anos e acha ok ele jogar The Last of Us e Bloodborne, o problema é seu — e você já sabe disso.

O que eu temia antes do anúncio do Switch era que a Nintendo, depois de ter perdido tanto público com Wii U — que, ao contrário do que dizem, é um ótimo console e com jogos muito bons, ainda que poucos—, se rendesse à tentação de abraçar prioritariamente o público adulto, abandonando a sua história e tradição. Felizmente isso não aconteceu e a Nintendo continua a mesma. Se tudo der certo, e o apoio dos produtores de jogos existir, esse console vai vingar e vai garantir por mais longos anos a renovação dos fãs de videogames, de uma maneira que só a Nintendo sabe e se arrisca a fazer.