Formação e trajetória

Estava lendo hoje uma entrevista com a psicanalista Maria Rita Kehl e lá ela fala algo interessante ao ser questionada sobre sua formação na psicanálise: “não vou dizer que seja uma formação, é uma trajetória”. A palavra “formação” tem realmente um sentido terrível, se pensarmos bem. Formar, colocar na forma, moldar… De fato, nas instituições de ensino passamos por processos de formação e conformação aos modelos e estruturas estabelecidas. E assim nos tornamos aptos a contribuir com um mundo em que se exige quase tudo de nós, exceto que pensemos por conta própria.

Pensar a educação — formal ou não — como uma trajetória é libertador, porque pressupõe que esse caminho é contínuo. Depois do ensino médio, da graduação, do mestrado e do doutorado, ninguém está formado de verdade. Podemos estar ajustados, vivendo de acordo com o que aprendemos e só com o que já aprendemos. Mas quem se preocupa com o conhecimento e com a verdade não aceita parar num ponto qualquer do caminho.

Toda trajetória pede um movimento constante, e é isso que a busca pelo conhecimento é: um processo que não termina. E não é maravilhoso que seja assim?

Ilustração de Siggi Eggertsson