Distraídos

Até mesmo quem costuma ter muita certeza pode se enganar, pode se perder pelo caminho. E errar não é um problema terrível. Muitas descobertas e criações surgiram do equívoco, mas como vemos apenas o resultado final desconsideramos a possibilidade de que o processo tenha sido longo e conturbado (e na maioria das vezes, pra qualquer empreendimento que você imaginar, geralmente é ).

Existe, na nossa cultura, um tabu em torno do erro. Parece que todo engano nos mostra como seres incapazes. Mas a incapacidade é uma ausência de movimento, de iniciativa, de possibilidade. Se você percebe que tem condições de realizar algo, mas o resultado final não é o esperado, ainda devemos chamar isso de incapacidade? Ser incapaz não é falhar, mas não ter condições de realizar algo. Quem tenta, sabendo que podia realizar, é totalmente capaz. O erro ou a falha são apenas circunstâncias, e o que eles mostram, de forma definitiva, é a nossa fragilidade.

Mas aqui está outra interpretação errada: a fragilidade não é um mal. Ela é parte da condição humana, tão natural quanto respirar, pensar, querer; ninguém precisa se envergonhar de se sentir frágil, de perceber que poderia ter feito mais, realizado mais. Um dos títulos de livros que mais gosto (daqueles que eu acho que eu devia ter criado porque o título sozinho já diz um monte de coisas) é “Distraídos Venceremos”, do Paulo Leminski. E não é bem isso? Distrair, se iludir, descobrir, entender… tudo mágica do mesmo tipo. Caminhemos distraídos, então, em busca da vitória.

Gif criado por Janneke Meekes