De onde vem o conhecimento?

A gente cresceu aprendendo que o conhecimento é algo necessário. Mas aprendemos também que o conhecimento é produzido por poucos, sendo muito difícil entrar nesse clube de pessoas com habilidades especiais. Lemos os livros, assistimos aos filmes, ouvimos falar das inovações criadas por pessoas que souberam pensar de forma não tradicional, quebrando regras e se lançando para o desconhecido de maneira impetuosa e sem medo de errar. Quantas histórias assim você conhece? Leonardo da Vinci, Giordano Bruno, Van Gogh, Marcel Duchamp, Isadora Duncan, Jorge Luis Borges, Niels Bohr, Marie Curie, George Orwell, Clarice Lispector, Nina Simone, Malcolm X, Steve Jobs… Conseguiríamos, eu e você, ficar aqui num bate-bola eterno, citando nomes e nomes de pessoas incríveis que contestaram os valores de suas épocas e foram grandes em suas áreas específicas de atuação. Mas até que ponto somos estimulados a fazer o mesmo?

O nosso modelo educacional nos leva a entender o conhecimento como uma produção atípica, totalmente fora da curva, produzida por gênios. Esse tipo de perspectiva insiste na tese de que algumas pessoas são mais aptas que outras simplesmente porque nasceram com um dom que os outros não possuem. É verdade que possuímos capacidades distintas, mas não sei até que ponto isso significa uma incapacidade de produzir ou de se aperfeiçoar em determinada área do conhecimento. A defesa da genialidade pura — em detrimento do esforço e da superação — limita algo que é essencial para todo ser humano: a nossa vontade de conhecer.

Aristóteles escreveu que “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer” (ARISTÓTELES. Metafísica, Livro I, capítulo 1. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1973). Com isso ele não queria, necessariamente, afirmar que todos gostam de estudar, mas sim que temos um ímpeto natural de curiosidade e interesse. Ken Robinson, no vídeo a seguir, trata exatamente desta questão:


A criatividade precisa de muito pouco para se desenvolver. E com a criatividade, vem o conhecimento. Muitas pessoas que produziram coisas incríveis estavam realmente acima da média. Mas não porque nasceram com um dom inato que tornou inevitável cada conquista que realizaram. Eles foram incríveis, na minha opinião, porque se dispuseram a olhar para frente insistindo em seu direito mais básico: o direito de interferir positivamente na realidade, criando, refletindo, deixando uma marca no mundo. Nem todos farão isso, certamente. Mas todos podemos fazer. E saber disso já muda tudo.

Ilustração de Sveta Dorosheva

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

Relacionados