Aprender a perder

Competir exige aprendizado. E eu nunca fui um bom competidor. Lembro, por exemplo, de uma vez em que eu estava jogando ludo em casa com um monte de gente e, na iminência de perder a partida, fiquei com tanta raiva que joguei o tabuleiro pra cima. Peças voando pelo quarto, gente saindo de perto de mim e eu lá, sozinho, com cara de choro. Naquela época, competir era para mim sinônimo de frustração.

Hoje eu não sou mais assim, mas quando penso sobre isso me lembro de eu sentir que a derrota não era só perder um jogo, tinha mais; era como adquirir uma falha de caráter. E era por isso que eu não entendia as pessoas que perdiam e diziam: “não me importo”. Como não se importa? Todo mundo se importa.

Parte dessa confusão, acredito, tem a ver com a sensação de que uma competição é sempre absurda porque é fechada demais, com suas normas e estrutura e impossibilidades. E tem que ser, senão não dá pra competir. Mas você já percebeu que, para as crianças, as regras são a parte menos importante do jogo? Elas aprendem as regras e depois as alteram, inventam outras, enrolam todo mundo — e não sentem isso como um problema. Afinal, se não existe um certo absoluto, todo mundo vai ganhar em algum momento. O que incomoda nos jogos (e em suas regras) é que quase tudo na competição é feito para privar a imaginação e impor a derrota a alguém. Para mim, essa é a metáfora perfeita da vida social: pouca imaginação e muita obrigação; gostar e dar significado para as coisas não faz parte das regras. Aprender a perder é necessário porque a vida é cheia de derrota. E se vamos perder mais do que ganhar, todo mundo tem que saber aguentar a frustração. Essa é nossa sina.

Foto de Kristina Makeeva