A Origem da Filosofia
O surgimento do pensamento filosófico ocorreu na Grécia, entre os séculos VII e VI a.C., e o primeiro filósofo se chamava Tales de Mileto.
Essas afirmações, tão absolutas e contundentes, podem causar um certo estranhamento. Afinal, será que ninguém pensava e refletia criticamente antes desse período histórico e em outros lugares? Será que podemos realmente afirmar com tanta convicção que a Filosofia surgiu naquele espaço geográfico, naquele momento e tendo uma pessoa específica indicada como a primeira a filosofar?
Em parte isso está certo, principalmente se considerarmos que a Filosofia a que estamos nos referindo se trata de um tipo de reflexão, bem peculiar e pontual, que surgiu por conta de circunstâncias sociais, políticas e econômicas que, por volta do século VI a.C., existiam na cultura grega de forma mais evidente do que em outras culturas.
A primeira coisa que precisamos compreender — para não cairmos na armadilha do preconceito e do etnocentrismo — é que a Filosofia é uma forma de saber, mas não necessariamente a melhor forma de saber. Por isso, quando afirmamos que a Filosofia surgiu na Grécia não podemos com isso concluir que aquele era o povo mais inteligente da antiguidade ou o que ofereceu mais contribuições para as sociedades humanas. Outras civilizações desenvolveram muitos conhecimentos e certamente em muitos aspectos esses saberes eram até mesmo bem mais avançados do que aqueles que estavam sendo produzidos na Grécia no período em que surgiu a Filosofia.
O fato de não chamarmos de Filosofia o conhecimento produzido pelos orientais, egípcios ou pelos maias não significa que estes povos não eram dotados de técnicas e culturas avançadas. Além disso, outra característica do surgimento da Filosofia que veremos nas próximas aulas é a constatação de que uma das condições essenciais para o surgimento da Filosofia na Grécia foi o fato de que os gregos estavam em contato com uma grande diversidade de culturas — fosse por motivos econômicos, políticos ou mesmo por interesse nos saberes produzidos por outros povos — o que permitiu ao povo grego a possibilidade de compreender a realidade em contexto, abrindo assim caminho para o que entendemos como a percepção filosófica da realidade.
Outro aspecto importante é a relação entre Mito e Filosofia. Por vezes temos a percepção de que Mito e Filosofia se opõem completamente, um representando o pensamento irracional e o outro dando conta de reflexões mais atentas sobre a realidade. No entanto, como veremos, nem o Mito é ausência de razão — pois, mesmo não fazendo uso do rigor científico ou da argumentação filosófica, é inegável que os mitos são tentativas de compreensão da realidade — e nem a Filosofia é a razão acima de todas as coisas, já que o aspecto simbólico do Mito é algo recorrente em toda a Filosofia (assim como no pensamento social em geral) desde a antiguidade até os dias atuais.
Em outro texto vou destacar o valor do mito e sua importância em culturas distintas. A ideia é percebermos os pontos de diálogo e conflito entre Mito e Filosofia, para assim conseguirmos entender melhor o que a Filosofia é.
Partenon, um símbolo da democracia grega
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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