Quando procuramos entender o comportamento alheio, sempre usamos como parâmetros as nossas próprias ações. Se por um lado isso é inevitável, já que só conhecemos o mundo por nossas próprias experiências, por outro é incrivelmente limitador. Afinal, somos quase sempre heróis e ídolos de nós mesmos, e mesmo a modéstia que por vezes demonstramos costuma ser mediada por algum desejo de reconhecimento e glória.
Eu, por exemplo, quero me acreditar consciente dos meus defeitos e problemas, apesar de saber que no fundo encontro sempre alguma justificativa para ser como eu sou ou fazer o que eu faço. Mas a desgraça de Narciso não foi perceber a si mesmo? Por que repetir tamanha sandice?
Outra coisa comum é dizermos que as pessoas deveriam se colocar no lugar dos outros, mas essa expressão guarda uma confusão linguística que alcança também a vida social: nos colocamos no lugar dos outros querendo pensar em como deveríamos agir naquela situação, mas não em como realmente agiríamos. Assim, nos tornamos bons em criticar, mas péssimos em reconhecer que talvez faríamos o mesmo (se não fizéssemos pior).
No lugar de se colocar no lugar do outro (lugar que é só desse outro e nunca será nosso) talvez o melhor seja tentar entender as motivações alheias. Tarefa difícil, pouco produtiva, mas que pode nos ajudar a perceber com mais frequência a fragilidade alheia — e a nossa.
Esculturas de metal de Zadok Ben-David