A guerra na tevê

Quando eu criança lembro de acordar um dia e ver todo mundo grudado na televisão. E depois, pra qualquer lugar que fôssemos, víamos a mesma cena: pessoas vendo a guerra na tevê. Era a Guerra do Golfo e foi a primeira vez que existia um trabalho jornalístico daquele jeito, a primeira vez que se podia ver os ataques acontecendo ao vivo, diante dos olhos do mundo inteiro.

Imagens da CNN na época da Guerra do Golfo
Era muito estranho, porque estávamos acostumados a filmes de guerra e a notícias sobre confrontos de todo tipo. Mas ninguém tinha visto ainda imagens reais, ao vivo, de uma guerra em curso. Existia um certo tipo de encanto em ficar na frente da televisão tentando decifrar o que significavam todos aqueles tiros e explosões. Mas o que nos atraía ali? Não sei ao certo. Hoje acordei lendo na internet sobre o ataque norte americano ao General Qassem Soleimani, do Irã. O ataque foi feito com drones, no aeroporto de Bagdá, no Iraque, e matou pelo menos sete pessoas. O Irã promete vingança, e a sensação de uma guerra iminente existe. O que, óbvio, espero que não ocorra. No entanto, da mesma forma que sentia quando era criança, boa parte das pessoas se sente hipnotizada pela possibilidade da guerra, e por tudo o que ela pode desencadiar. Mas a guerra envolve mais do que os políticos e militares dos países envolvidos, e é isso que não se costuma levar em consideração. De tudo que li rapidamente sobre o assunto, esse tweet foi o que achei mais sensato: Brandon Sheffield é desenvolvedor de games, e ressalta o fato de que o Irã não é um regime a ser combatido, mas um lugar cheio de pessoas, que tem vidas comuns, fazendo coisas comuns. Descaracterizar as pessoas é parte do que faz governos apoiarem as guerras. Entender que são pessoas que morrem é o que nos faz desejar que nenhuma guerra exista, em lugar nenhum.

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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