Existe um espaço — quase inalcançável — que fica entre o desejo e a expectativa. Das muitas coisas que cada de nós tem em mente como um desejo concreto (algo realizável, possível e viável), certamente a maioria parece, no campo das ideias, muito mais interessante e importante do que efetivamente é.
Esperamos que nossos sonhos encontrem o seu caminho por si próprios, como se existir fosse deixar que a realidade seguisse seu curso. Até que descobrimos — sem muita surpresa, porque intuitivamente sempre soubemos que já era assim — que não existe destino, que nada estava escrito e que o acaso impera com mais força e intolerância que qualquer ditador que já passou pela Terra.
Quando nos encontramos com nossa própria verdade, a primeira reação é desabar, desistir, perder o encanto. Contudo, acho que o reconhecimento da desimportância de tudo pode até nos ajudar, desde que possamos com isso aceitar a liberdade, a despreocupação e, portanto, nos tornemos pessoas menos sérias, menos crentes nos propósitos de qualquer coisa. Para que os acasos ainda nos surpreendam e deixem aquele ar de magia que nos faz pensar “nossa, que bom que isso aconteceu!”, é preciso exercitar o esquecimento. A magia só existe quando não esperamos por ela. Conhecer o truque de antemão, estraga toda a brincadeira.
Ilustração de Mariana, a miserável