O que você acha de morrer de maneira mais criativa? E não, não estou falando de coisas como Dumb Ways To Die.
A ideia de uma morte criativa — e de como a criatividade implica em um viver e um morrer mais humano e, portanto, mais vital — é desenvolvida por Amit Goswami no livro A física da alma.
Algo interessante nesse livro é a proposta de se fazer uma ciência sobre a morte, mas não uma ciência que exija ou dependa de dados empíricos. O questionamento do autor se volta, nesse âmbito, para o fazer pesquisa em geral. A ciência necessariamente envolve empirismo? Se a nossa resposta for sim, então é impossível fazer ciência sobre a morte — dado que só quem passasse por ela poderia falar sobre o ocorrido. Mas a forma como Goswami vê a ciência é um pouco mais sutil, sendo que ele sugere que a ciência pode ser encarada como arte, ou seja, de forma não-objetiva, mas não menos viva ou capaz de tratar e refletir interesses e percepções humanas.
Para Goswami a passagem da morte para a reencarnação é um rito de passagem para o qual devemos nos preparar. Se não nos preparamos — e se for verdade que a reencarnação existe — ela vai acontecer e pronto. Mas refletindo sobre esse processo podemos direcionar nossas forças para que esta passagem se dê de forma criativa.
O processo criativo, da forma como é interpretado por Goswami, possui quatro estágios: preparação, incubação, insight e manifestação. Dar atenção à nossa vida como uma preparação para a morte nos torna mais conscientes de nossa própria vida e nos permite escolher, se não as circunstâncias, pelo menos a qualidade da nossa morte. Interessante perceber que Sócrates já dizia, de forma similar, que filosofar é aprender a morrer. O que significa que nem todos que estão vivos estão se dedicando ao projeto essencial de nossas vidas: um aprendizado para o que vem depois.
A morte de Sócrates, de Jacques-Louis David, Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Existem muitos críticos desse tipo de argumentação, sendo o mais notório Nietzsche, para quem a vida deve ser vivida de forma intensa por ela mesma e não por objetivos externos à nossa própria existência material. Goswami, por outro lado, encara a vida como um sonho. E se esse sonho pode ser parte do processo criativo para uns, para outros ele é apenas um esquecimento de quem nós mesmos em verdade somos.
(…) a escolha é sua. Você quer morrer e entrar em um grande sono, para que, ao “acordar” na próxima encarnação, você seja virtualmente como era antes? Ou prefere morrer e entrar em um grande samandhi para que, na próxima encarnação, haja um novo você — o resultado de um insight criativo? (GOSWAMI)
E eu acredito nisso? Não sei ao certo, mas o assunto certamente me deixou intrigado e atento para que, quando a hora chegar, eu pelo menos desperte do sono — e do jeito certo.