Um recomeço
É difícil até mesmo imaginar quantas vezes em nossas vidas vamos ter que lidar com a sensação de reiniciar alguma coisa. Na maior parte do tempo é possível que esse processo aconteça de maneira casual, sem reflexão, sem muito tempo gasto na tentativa de entender cada uma das etapas do que nos acontece. Mas nem sempre vai ser assim. Existem mudanças que são mais significativas, e não necessariamente no aspecto externo, mas sim no modo como pensamos e entendemos a nós mesmos diante das nossas escolhas.
Às vezes quero imaginar que todo mundo sente tudo do mesmo jeito e, se não deixamos isso claro uns para os outros, é só porque temos medo de sermos exatamente assim, quase iguais, sósias que caminham pelo mundo com ínfimas diferenças. E assim acabamos nos iludindo, acreditando que temos um jeito só nosso de entender, de viver, de sentir a realidade. Será que é isso? Somos todos quase os mesmos, sofrendo as mesmas coisas, ignorando o que sentimos e nos crendo injustiçados porque o mundo não nos dá o valor que merecemos? Provavelmente não. E, por isso, saber olhar o momento é tão importante. Como temos nossas circunstâncias e singularidades, como somos nós mesmos e mais ninguém (e talvez seja essa a única evidência que nunca vai nos trair), é essencial entendermos que recomeçar é encarar a existência da maneira como ela é.
Jorge Luis Borges, escrevendo sobre Platão, disse certa vez que viver é uma coisa triste, porque nos sabemos finitos e insistimos em crer na eternidade; seja a nossa, a do mundo ou a do que julgamos verdadeiro e definitivo. Melhor é aceitar a limitação que nos cerca, e viver aprendendo a recomeçar, sem medo, sem apego, sabendo ser só o que somos e mais nada.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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