É só um algoritmo
Autores como Jaron Lanier e pesquisadores da tecnologia como Richard Stallman são obcecados com a ideia de que não deveríamos estar nas redes sociais. Parte disso pode ser uma consequência típica do pensamento de mudança de gerações, que é o que acontece quando alguém diz: “na minha época era melhor, quando eu era adolescente o mundo era assim…” E, claro, cada um tende a acreditar que as suas experiências são mais valiosas e significativas. Assim, para pessoas que viram a internet se tornar o que é, mas que tinham uma experiência antes dela, se manter ausente é mais simples e viável. O mesmo não se pode dizer de pessoas que crescem nesse mundo e não conheceram outra realidade.
No entanto, o problema é que não sabemos as consequências que serão geradas por esse tipo de interação que temos hoje. Quem argumenta contra as redes sociais e contra o que elas representam vê, principalmente, o fato de que esses sites e serviços operam com a manipulação das emoções. Somos induzidos a postar coisas sobre nós, entregar nossos dados, entrar em discussões com outras pessoas e tudo isso por quê? Porque — e é nisso que acreditamos — queremos, porque é a nossa vontade. Mas basta refletir sobre o tema para entender como essa forma de pensar é ingênua. A perspectiva liberal pressupõe a crença na individualidade intocada e na nossa capacidade livre de fazer escolhas. Mas a neurociência cada vez mais se aproxima da demonstração de que o livre-arbítrio não existe e que nossas escolhas são fisiologicamente determinadas e também psicologicamente condicionadas. É possível, por exemplo, mapear o movimento de uma pessoa antes de ela decidir que quer se movimentar, o que mostra nossa impotência diante de algum tipo de determinismo que nos afeta o tempo todo. E o que vivemos na internet é o mesmo, portanto, que já vivíamos antes: não somos livres para escolher tudo o que queremos fazer e ser. No entanto, a internet é diferente em um aspecto: ela potencializa tudo.
De oportunidades de compras à indicação de um novo gosto musical, os algoritmos estão mapeando e construindo a realidade em torno de nós. “É só um algoritmo”, alguém vai dizer, “não pode ter tanta força assim”. Mas pense bem, depois que você começou a utilizar um smartphone, a seguir pessoas no Twitter ou no Instagram, a ouvir podcasts… enfim, depois de ter a internet presente na sua vida todos os dias, quantas vezes você sentiu que realmente estava no controle da situação? Não estamos. Não podemos parar quando queremos, não podemos decidir não sentir tristeza ou raiva com o comportamento das pessoas nas redes sociais, não podemos evitar o sentimento de superioridade que nos invade quando acreditamos que somos melhores e mais capazes do que as outras pessoas que não pensam exatamente como nós.
Os primeiros teóricos otimistas que analisavam a internet, acreditavam que ela iria subverter completamente a lógica da indústria cultural. Nós poderíamos nos mover diante de interesses diversos, sem influências das grandes corporações, sem a sensação determinante de ser obrigado a gostar de uma coisa ou de pensar desse ou daquele jeito. Mas veja o acontece no WhatsApp, Facebook ou Twitter: estamos todos em nossas bolhas, seguindo os mesmos assuntos, discutindo os mesmos temas, sustentando as mesmas verdades e acreditando que temos certezas e liberdade. Seria apenas tudo igual, se não fosse intensamente mais forte.
Mas isso é realmente um problema? Só o tempo vai dizer. De qualquer forma, já sabemos que os algoritmos são mais do que meras linhas de programação. Em muitas situações são eles que nos comandam, e não nós a eles; e isso, por si só, já deveria ser um alerta.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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