Um gosto do passado

Remexendo nas minhas gavetas cheias de velharias, encontrei um caderno pequeno que eu usava na época em que eu estava fazendo graduação. É uma caderneta de 10,5 x 14 cm de capa amarela e vermelha com um desenho Snoopy. Eu usei essa caderneta no ano 2002 e nela eu fazia anotações de aulas, guardava citações de livros (algo pouco útil, já que era difícil de encontrar as citações depois) e, pasmem, links de sites interessantes que eu queria consultar depois (algo absurdo hoje em dia, mas que parecia ok naquela época em que eu estava me iniciando na internet).

Guardar as coisas naqueles cadernos não era prático como utilizar o Evernote, mas encontrar esse caderno, com a minha caligrafia, os meus rabiscos e, de certa forma, com a minha presença, me traz uma sensação de realidade que eu acho que nunca vou ter consultando um tweet antigo ou um arquivo no Google Drive. Eu sei que tem um pouco de nostalgia nisso tudo, mas não é só isso. Quando encontro alguma anotação que fiz à mão eu tenho uma impressão de realidade que é difícil de reproduzir com um email ou com qualquer outra coisa que está apenas no meio digital. Eu sei que a realidade não é só aquilo que é físico, mas o que é físico me deixa uma marca sensorial mais difícil de apagar. Não sei se o mesmo acontece com você, mas a minha experiência me mostra que as minhas memórias mais vivas são essas que guardam algo físico, corpóreo. E é esse o motivo pelo qual tenho dificuldade de me desfazer dessas coisas que já tem serventia alguma.

Hoje, os meus procedimentos são um misto do analógico com o digital. Tudo que eu acho que vou precisar consultar no futuro eu guardo no Evernote, criando uma nota direto pelo aplicativo ou digitalizando algum papel. Mas eu ainda uso cadernos para anotações rápidas e insights sobre algum assunto que me interessa. Esse texto que você está lendo, por exemplo, começou em um caderno antes de eu terminá-lo aqui, no editor de texto do Medium. E isso é curioso, porque o que eu escrevo no papel sempre é uma versão meio caótica e incompleta do que eu quero dizer, já que não tenho como uma escrever à mão em uma velocidade próxima ao ritmo do meu pensamento. De qualquer forma, eu ainda prefiro escrever assim do que apenas digitando, apesar de saber que no teclado eu consigo ser muito mais rápido.

Anotações no meu caderno atual

Eu só tive acesso a computadores e internet bem tarde, quando entrei na universidade. Assim, a minha experiência com tudo o que eu faço ainda é uma experiência do passado. Eu sei que as crianças de hoje, inseridas desde sempre em um mundo em que a tecnologia digital é onipresente, terão outras experiências e percepções sobre o que é a memória e as sensações. Mas é justamente por isso acho empolgante estar vivo hoje, podendo perceber tantas mudanças acontecendo diante dos meus olhos. Encontrar meus papéis antigos me dá uma sensação de conforto e me traz memórias de coisas que já vivi, mas não quero olhar só para o passado. O futuro chega a cada instante e o que ele traz parece bom demais para vivermos só do que já passou.