Todo mundo devia ser professor
O melhor de ser professor é se ver confrontado com a realidade a todo instante.
Nós, seres humanos, vivemos em uma contradição constante; queremos e desistimos, escolhemos e lamentamos não terem escolhido por nós; perseguimos a felicidade e não nos achamos merecedores dela.
Em algumas profissões, a rotina e a banalidade dos afazeres acabam por anestesiar os nossos sentidos. E aí, apenas vivemos um dia depois do outro, sem aprender nada de novo, sem buscar outros propósitos. Mas com a docência é diferente. A não ser que você já tenha desistido antes mesmo de começar, você vai acabar percebendo que ser professor é conviver com os sentimentos mais conflitantes que existem em você. Por mais que você se esforce, estude e queira encontrar outras soluções e caminhos, sempre vão existir estudantes que vão desprezar tudo o que você faz, te tratar com desdém e rir da sua incapacidade de fazer o que você acha que está preparado pra fazer. E por que isso é importante? Porque te faz voltar pra terra, te faz ter humildade e reconhecer as tuas limitações; aquelas que, no final, são as limitações de todos nós. Somos imperfeitos, egoístas e, no geral, temos medo do convívio social. Mas também podemos ser curiosos, gentis e esperançosos em relação à ideia de que uma vida melhor é possível, ainda que não saibamos como contribuir pra ela.
Existem momentos em que os professores recebem gratidão pelo seu empenho e esforço e, sim, isso é muito bom. Mas é essencial também poder entrar em contato com o olhar dos estudantes que menosprezam o que você faz. Claro, enfrentar o rancor e a dúvida é ruim pro ego, mas é bom pra alma. Te fortalece, te dá coragem pra persistir e, se você souber direcionar direito (eu ainda não consegui), traz também serenidade e sabedoria.
Todo mundo devia ser professor.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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