Alguém sabe o que está fazendo?
Trabalho com educação e é impossível eu não pensar sobre como as coisas funcionam em relação ao processo de ensino-aprendizagem. Quer dizer, por que ensinamos da forma como ensinamos? Por que essa estratégia e não outra? Por que esses conteúdos? Isso é realmente importante para a formação dos estudantes?
Mas, você já deve estar pensando, eu deveria saber exatamente o que eu faço e por que faço. Como assim eu tenho dúvidas?
Uma notícia pra você que não está envolvido com a educação: ninguém sabe realmente o que está fazendo. Alguns ainda se importam e se preocupam com o que fazem, gerando com isso algum resultado positivo (eu quero ser desse grupo), mas outros não estão nem aí. Ou pior: acreditam saber o que estão fazendo e falam sobre isso com uma propriedade tão grande que você quase acredita.
Fique em uma instituição de ensino durante alguns dias ouvindo professores falando sobre o seu ofício. Você vai ficar de queixo caído por ouvir tanta coisa absurda em um só lugar. Eu escuto barbaridades todos os dias - e não duvido que eu mesmo profira algumas -, o que demonstra que a pedagogia (como área de investigação sobre o ensino) é menos valorizada do que deveria.
Todos os que trabalham com educação deviam se importar mais com o processo de ensino e um pouquinho menos com as especialidades da área que ensinam. No final, é bem simples de entender: professores não queriam ser professores (existem exceções, óbvio) e por isso não se dedicam a entender o que fazem.
O que eu penso, no entanto, é que qualquer pessoa deve assumir o seu ofício com dignidade e compromisso, não interessando se esse é o trabalho dos sonhos ou só um meio de sobreviver.
Tive muitos professores bons. Eram pessoas que, ainda que não fossem a maioria, eram honestas e se importavam seriamente com o que faziam, mesmo tendo dúvidas sobre tudo. Como eu quero ser para os meus estudantes o mesmo que esses bons professores foram para mim, eu vou continuar pensando sobre o que eu faço. Com poucas certezas, com muitas dúvidas e sempre pensando, observando, criando alternativas… E, principalmente, com muito cuidado pra eu não me tornar mais um professor insatisfeito esbravejando besteiras. Até porque já existem muitos desses e eu prefiro ser diferente. Bem diferente.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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