Schopenhauer escreveu que nos sentimos bem quando percebemos que existem outros que sofrem mais do que nós. Parece terrível (é terrível!), mas não deixa de ser verdade. No curso da vida podemos sentir felicidade genuína com a alegria dos outros, mas isso só ocorre com aqueles que são mais próximos de nós, com as pessoas por quem temos afeto verdadeiro. Em relação ao todo da humanidade o sentimento de compaixão acaba sendo raro, o que é um problema gigantesco, já que é justamente esse tipo de empatia que nos torna mais propensos à ação ética.
Por outro lado, a satisfação que temos ao perceber que os outros estão com mais problemas do que nós não é exatamente um prazer. Não é felicidade, necessariamente, o que sentimos. Claro, algumas pessoas talvez se sintam assim, mas aí já estamos falando de sadismo. A questão com o sofrimento do outro é que, pelo fato de conhecermos a realidade apenas a partir de nós mesmos, tendemos a acreditar que as nossas dores e os nossos anseios são sempre os maiores e mais terríveis. Ninguém sofre mais do que a gente, ninguém é tão oprimido quanto a gente. Mas quem é a gente? Somos todos nós.
O reconhecimento do sofrimento alheio traz, portanto, uma sensação de pertencimento. Estamos juntos neste mundo e não somos tão diferentes assim. O sofrimento é partilhado e, ainda que alguns sofram mais do que outros, todos sentem dor, medo e angústia. Viver a vida como um conto de fadas é destruidor porque é irreal no pior sentido, nos trazendo a sensação de que a felicidade é possível para os outros mas não para nós. A verdade, contudo, é outra: a vida não tem final feliz. Tem final, e só.
Pintura de Kristin Vestgard