Qualquer história
Estava no metrô hoje vindo para o trabalho e fiquei observando as pessoas. Uma senhora feliz segurando uma cópia do jornal do metrô, um cara altão lendo uma edição da revista Men’s Health, um cara baixinho com um fone de ouvido maior do que a cabeça dele (o que será que estava ouvindo?), uma menina de coque com uma cópia de Jogos Vorazes na mão e uma mochila gigante nas costas, um cara vestido como executivo jogando Two Dots no smartphone (esse tava em pé bem do meu lado, por isso deu pra ver qual era o jogo) e um homem com jeito de alemão segurando um violoncelo.
Fiquei olhando aquelas pessoas e pensando que se eu perguntasse a qualquer uma delas sobre suas vidas - e se elas estivessem dispostas a responder a pergunta - eu teria certamente uma grande história pra ouvir. A gente costuma pensar que só alguns escolhidos tem vidas relevantes, importantes e com algo a ensinar. Mas qualquer pessoa tem uma vida cheia de histórias, dramas, alegrias e angústias. Por isso gosto dos textos autobiográficos que não parecem empreendimentos de marketing: A Bastarda de Violette Leduc, Nadja de André Breton, Minha Vida de Isadora Duncan… Esses são livros que mostram a incompletude que existe em cada de um nós e mostram também que se cada pessoa tivesse força e determinação para narrar a si mesmo, todos nós seríamos grandes contadores de história.
Mas não é assim. E nunca vai ser. Pelo simples fato de que temos medo de sermos o que somos e por isso fugimos da nossa imagem no espelho. Assim fica mais fácil olhar para os artistas e celebridades e pensar: “Que histórias incríveis! Que exemplo de vida!” E na verdade qualquer história é uma grande história, qualquer uma.
Foto de Reinier Gerritsen
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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