Podemos ser bons?

Rousseau acreditava na bondade inata do ser humano. Para ele, nascemos bons, mas somos corrompidos pela sociedade. O que mais me chama atenção nesta ideia é que ela carrega consigo um estranho paradoxo: nossa essência, vista de maneira isolada, é boa; mas quando nos juntamos nos corrompemos mutuamente, despejando maldade no mundo.

Estou sendo simplista demais aqui, é verdade. Rousseau reconhecia essa contradição entre a bondade inata e a corrupção social e, justamente por isso, atribuía a um fato casual o início da desigualdade e de todo o mal social. Esse fato é a propriedade privada. Se não tivéssemos nos seduzido pela ideia de posse, tudo poderia ser diferente.

De acordo com isso, fica fácil entender a pedagogia de Rousseau como um esforço para disseminar o desejo de liberdade. A liberdade é oposta à posse, porque ter coisas é também se comprometer e se prender a essas coisas. A liberdade é entender que o melhor de cada um de nós está no que podemos criar e compartilhar. A bondade, portanto, é possível, mesmo em uma sociedade corrompida, desde que estejamos dispostos à compaixão e à colaboração. Nos meus melhores dias, eu também acredito nisso.

Colagem criada por Beth Hoeckel