Os donos da programação

Agora que as Olimpíadas do Rio acabaram, aparecem as primeiras análises sobre a audiência global do evento na televisão. Depois das Olimpíadas de Londres a expectativa era grande. Afinal, os jogos de 2012 só perderam em audiência para os jogos de 1996, em Atlanta. Mas a expectativa não se concretizou. A NBC, a mais antiga e uma das maiores redes de televisão dos EUA, fez um grande investimento em tecnologia e na cobertura do evento, mas acabou tendo prejuízo. E de quem é a culpa? Dos jovens, claro.

Já tem muita gente discutindo a questão da queda da audiência como uma consequência do comportamento dos jovens de hoje (leia visões distintas do assunto aqui, aqui e aqui). Faz sentido. Afinal, muitos desses jovens passam mais tempo na internet do que na televisão. Mas isso não significa que eles ficaram alheios ao que aconteceu nos jogos. Eles estão informados e acompanharam as competições, as histórias e os recordes. No entanto, a primeira referência deles não é a mídia tradicional, essa que contabiliza a audiência. Colados em seus smartphones, não foram poucos certamente os que preferiram ver as Olimpíadas por streaming e também pelos memes no Twitter, pelas fotos no Instagram e pelos vídeos do Snapchat e no Youtube.

É um tempo diferente. Cada indivíduo é dono da programação e decide como e quando vai consumir o que precisa. Ficar parado na frente da tevê esperando o programa começar é uma coisa que cada vez menos pessoas fazem. Claro que esses dados ainda não refletem os hábitos da maior parte da população do Brasil, mas isso se deve, acredito, apenas à ausência de uma conexão com a internet que seja ao mesmo tempo barata e de qualidade. Se o streaming fosse viável no Brasil também teríamos aqui um número bem menor de televisores ligados.

A queda de interesse pelas Olimpíadas na televisão não significa uma queda de interesse pelas Olimpíadas. É a televisão que já não reflete mais a nossa época. Num mundo em que o controle remoto já não é mais tão necessário, é preciso uma reinvenção da ideia de televisão. Ela virá?