Hoje vi que a Nokia está relançando o celular Nokia 3310, um aparelho que saiu de linha em 2005, tem conexão 2G, câmera de 2 megapixels e sem os apps que você se acostumou a usar no seu smartphone (mas tem, justamente por isso, uma bateria que pode durar mais de 20 horas em conversação e quase um mês em uso moderado!). Vendo a empolgação das pessoas com o relançamento fica difícil de entender se é tudo nostalgia, ludismo ou apenas uma brincadeira. Afinal, estamos buscando exatamente o quê quando criticamos a tecnologia — e a nós mesmos, os usuários dela?
É um fato que nos tornamos obcecados por informação, entretenimento e notícias instantâneas. Mas ver as pessoas no Twitter e no Facebook saudando um aparelho que não te permite acessar direito a internet é, no mínimo, curioso. A fala da Nokia, de que estão trazendo o 3310 de volta por diversão, também não ajuda muito. Afinal, fica parecendo que não se trata de um aparelho com público certo e sim um souvenir para hipsters. Mas será que é só isso mesmo?
Os feature phones possuem sim um mercado, em parte pelo fato de que nem todos podem ter um smartphone e em parte por que existem pessoas que querem realmente lutar contra a dependência dos gadgets super conectados e cheios de funcionalidades (e estímulos ao consumo). O que é estranho, portanto, não é existirem celulares que são apenas celulares, mas sim o crescente interesse por produtos que, pelo menos em tese, fazem sentido só para quem precisa pagar menos ou para quem não deseja os recursos dos aparelhos mais robustos.
Comprar um Nokia 3310, um toca discos, uma câmera analógica e um nintendinho 8 bits por que essas coisas são legais — e não por que precisamos realmente delas — mostra o ponto a que o consumismo chegou. Temos hoje um mercado que nos estimula a comprar o que precisamos e o que não precisamos, nos transformando em acumuladores de coisas, ideias e desejos. Ok, isso não surgiu hoje — o capitalismo e a mídia estão andando abraçados por aí já faz tempo. Mas antes, boa parte do discurso era para a tecnologia nova, com outras funcionalidades e possibilidades. Agora, no entanto, o apelo para a consumo tem como argumento até mesmo lutar contra o consumismo e tudo que nos estimula a ele. É genial, mas também assustador.