Não existe arte pop...
… só o que existe é arte.
A utilização da expressão arte pop remete às experimentações de Richard Hamilton, Roy Lichtenstein, Andy Warhol, dentre outros. O movimento teve início nos anos de 1950 na Inglaterra e logo se expandiu para os Estados Unidos. Apesar desse nome ser difundido como uma escola ou estilo de arte, entendo que a ideia de uma arte pop, em detrimento de uma outra que não o é, traz uma confusão sobre o sentido do que arte pode significar para nós.
Ao mesmo tempo em que pode parecer uma vantagem ver a arte liberta dos modelos de erudição que afastavam ela do campo do entretenimento e da aproximação com a maior parte das pessoas, é ruim pensar a arte como uma experimentação aparentemente descompromissada e focada na reprodução dos ícones da mídia e dos objetos cotidianos. Me entenda, a arte pode ser isso, mas ela nunca é só isso.
A mesma confusão, acredito, é a que acontece quando se utiliza a expressão filosofia pop1. Falar de uma filosofia que não é só filosofia assim como de uma arte que não é só arte, mas são adjetivados com um termo que não tem seu sentido muito claro2, só inviabiliza uma compreensão clara do tipo de conhecimento ou proposta com a qual estamos nos deparando.
Não escrevo contra a ideia de uma arte pop por desgostar dos trabalhos dos artistas que se encaixam no movimento3. Na verdade eu admiro muito a estética criada por eles e acho a maioria dos principais trabalhos incontestavelmente relevantes para pensarmos a situação da cultura atual bem como para refletirmos sobre o modo como produzimos e consumimos a arte. A que estou me opondo, então? Não à arte pop, mas ao nome arte pop.
Dizer que a arte é pop não transforma ela em fenômeno de massas. Boa parte das pessoas que consumem produtos midiáticos não têm a menor ideia de quem foi Richard Hamilton. E o fato de Andy Warhol ter expandido seu nome e influência pelo mundo afora, para além das galerias de arte, também não faz com que ele seja um exemplo de figura midiática, à la Michael Jackson e Madonna (esses sim, verdadeiros ícones da arte pop).
A chamada arte pop é arte, boa arte. Esqueça esse pop.
Drowning Girl, de Roy Lichtenstein
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Escute, por exemplo, a filósofa Marcia Tiburi não conseguindo nem de perto explicar o que é uma filosofia pop no Anticast 87 ↩
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Afinal, o que é exatamente uma coisa pop? O que é pop hoje pode ser cult amanhã? Adorno criticava o jazz no início do século XX por ser uma música decorrente da Indústria Cultural, promovendo uma banalização da cultura. Mas hoje um ouvinte de jazz será considerado provavelmente uma pessoa culta, erudita. Você consegue ver o problema da indefinição? ↩
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No site do MoMA tem uma boa retrospectiva da pop art. ↩
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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