Espetáculo

Tem algo de irônico no fato de que eu consigo gostar tanto da visão de cultura de Mario Vargas Llosa mesmo tendo atitudes completamente opostas a tudo o que ele diz. Minutos depois de reler um capítulo de A civilização do espetáculo eu consigo ir jogar Super Mario no Wii ou Pokémon no Dsi sem sentir incômodo algum. Sou contraditório? Talvez.

Essa cultura quase exclusiva de entretenimento e diversão (temas debatidos no livro) me assusta e me incomoda, mas eu não deixo me inserir nela e de me sentir feliz por viver em uma época com tantas facilidades e comodismos. Mas uma coisa o livro mudou em mim de forma absoluta: eu, que achava que a responsabilidade pela inserção na cultura cabia a cada pessoa e que ninguém, nem o Estado, nem as instituições acadêmicas, nem as religiões, deveriam interferir no direito das pessoas de se lançarem para a cultura erudita ou se afundarem na mais profunda estupidez, hoje acho que algumas pessoas - pela profissão que escolheram pra si (como quem trabalha com ensino, por exemplo) - têm a responsabilidade de manter viva o melhor da cultura que temos. Esse “melhor” pode parecer muito subjetivo, mas a quantidade de coisa nula produzida atualmente, facilita essa decisão e nos apresenta os limites.

Civilização do espetáculo? Sim. Fim da cultura. Acredito (e espero) que não.

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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