A arte depois da arte
Um artista de rua chamado DS foi avisado que alguém ia remover um grafite dele num lugar específico. Ele foi lá, conseguiu tirar uma foto do cara bem na hora e depois grafitou o removedor de grafites na parede. Muito bom!
A tese de que as ruas e muros precisam ser mantidos intactos é tão estranha quanto o fato da gente não poder pisar na grama.
The lunatic is on the grass. Remembering games and daisy chains and laughs. Got to keep the loonies on the path. (Pink Floyd, Brain Damage)
A arte é algo tão essencial e vital para a vida humana que precisa poder estar em todos os lugares em que alguém achar que ela é válida. Claro que eu entendo que existe patrimônio público e privado e certamente eu não gostaria que alguém, sem minha autorização, simplesmente grafitasse a minha mochila no metrô em nome da arte. Mas não estou falando de anarquia e desobediência civil, mas de bom senso.
A arte de rua, muitas vezes, dá para o ambiente urbano uma cara que as construções (objetivas, funcionais, eficientes etc…) simplesmente não conseguem. Um exemplo interessante disso é o mapeamento online via Google Street View de obras de arte de rua do mundo todo. Pra ver basta acessar esse site e fazer as buscas por local ou por artista. Dá também pra marcar o que você vê na sua cidade, contribuindo assim com as pessoas interessadas nesse tipo de expressão.
Não desmereço a arte clássica que está nos museus, mas a arte da rua está mais próxima da maioria das pessoas e a gente não precisa pegar fila, pagar ingresso ou fazer cara de inteligente pra apreciar o que vemos nos muros. Por isso, e em nome do verdadeiro bom senso, acho que todo mundo devia fazer o mesmo que o cara com nome de videogame portátil: se você olhar alguém “limpando” um bom grafite, faça arte depois da arte.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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