Insistir sem ter certeza

Tenho tentado encontrar soluções para fazer aulas diferentes, mais dinâmicas e menos tradicionais. Não porque eu queira, mas porque os estudantes demandam isso.

Na graduação e nos cursos técnicos eu ainda consigo ser tradicional do meu jeito: todos sentados em fila; o professor fala; estudantes escutam e pedem a fala quando têm dúvidas ou contribuições para o tema; e só.

Eu sei que falando desse jeito parece a aula mais chata do mundo, mas não é. E eu tenho certeza disso. No entanto, independentemente do que eu ache, os estudantes do Ensino Médio não aguentam mais uma aula assim. Não me refiro à todos, claro. Mas a maioria certamente não consegue mais se concentrar com esse tipo de aula.

Aliás, eu sei que a maioria das pessoas acha esse tipo de aula tradicional incrivelmente ultrapassada e cansativa, mas eu vejo de um outro jeito. Vivemos em uma época em que todo mundo gosta de falar, de opinar e fazer. Mas quase ninguém quer ouvir, pensar e refletir.

Ilustração de Byron Eggenschwiler

Quando me ponho, então, para pensar em aulas mais dinâmicas e divertidas, não vejo isso como um ganho. Um ganho seria conquistar os estudantes pela fala, pela reflexão, mas isso eu não tenho conseguido — e muitas vezes nem mesmo na graduação, onde pode parecer que o clima é diferente.

Eu não acho que uma aula deva, necessariamente, ser divertida. Pelo mesmo motivo que não acredito que o conhecimento tenha que ser obrigatoriamente divertido. E aqui falo de divertido no sentido do entretenimento, porque é nisso que os estudantes pensam quando pedem uma aula divertida. Ou seja, eles não estão demandando uma aula encantadora, mas uma aula que é uma festa. E quando isso acontece, quando a escola deixa de ser um espaço para se tratar de coisas sérias de um jeito sério, então a gente já perdeu tudo.

Importante dizer que quando falo de seriedade, não uso esse termo como sinônimo de chatice ou de algo desinteressante. As aulas mais interessantes que assisti na minha vida eram aulas absurdamente tradicionais. Mas os professores que ministravam essas aulas falavam com paixão, se comprometiam com o que diziam e se esforçavam para nos ajudar a entender o que apresentavam. Eram aulas encantadoras. Mas, do ponto de vista prático, muito pouco acontecia.

No entanto, como já disse, quando os estudantes pedem aulas dinâmicas e divertidas, não é disso que eles falam; o que eles querem, na maior parte dos casos, é brincadeira e, principalmente, ausência de esforço para pensar e entender.

Kafka, escrevendo a seu amigo, Pollak, disse o seguinte sobre a relação entre os livros e a felicidade:

Se o livro que estamos lendo não nos sacode e acorda como um golpe no crânio, por que nos darmos o trabalho de lê-lo? Para que nos faça feliz, como diz você? Seríamos felizes da mesma forma se não tivéssemos livros. Livros que nos façam felizes, em caso de necessidade, poderíamos escrevê-los nós mesmos. Precisamos é de livros que nos atinjam como o pior dos infortúnios, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido banidos para a floresta, longe de qualquer presença humana, como um suicídio. É nisso que acredito.

Penso a mesma coisa da aula e do conhecimento em geral. Existe um consenso quase absoluto voltado para a necessidade dos momentos felizes em tudo o que nos cerca. E felicidade aqui, como já disse, é aquilo que entretém, aquilo que agrada. No entanto, buscando esse tipo de sensação de felicidade nós corremos o risco de perder a força reflexiva que vem da angústia, do esforço, do incômodo.

Acredito em tudo o que disse até aqui, mas seria muita pretensão dizer que é tudo verdade e pronto. Talvez eu esteja errado, talvez brincando se possa mesmo aprender mais… quem sabe.

Então, como não quero abandonar tudo o que acredito mas também não quero deixar de considerar outras formas de pensar, o que tenho procurado é algo como um meio-termo entre a minha proposta de ensino e o desejo dos estudantes. Assim, estou tentando criar espaços em que os estudantes possam se divertir, criar e opinar à maneira deles, mas sem perder o foco do conhecimento que está sendo discutido. Porque considero a possibilidade desse meio-termo dar certo, eu ainda ainda tento. Mas a convicção de que esse é o melhor caminho eu não tenho.

De qualquer forma, fico pensando que talvez seja justamente essa a maior beleza de viver a docência: insistir mesmo sem ter certeza, nenhuma certeza.