Eu e o tempo
Quando pensamos sobre o tempo é comum associá-lo a uma coisa externa, que nos afeta, nos condiciona. O tempo, também, é muitas vezes imaginado como algo a que estamos submetidos, uma condição da qual não conseguimos fugir, mesmo tentando insistentemente. Em outros momentos, o tempo é o amigo que nos salva, acolhe, conduz.
Todas essas formas de pensar pressupõem o tempo como agente externo, como aquilo com que nos relacionamos. Mas e se nós formos o tempo? E se existirmos sendo o que ele mesmo é? Foi em Borges que li pela primeira vez essa intuição, e, mesmo não deixando de achá-la estranha, quero acreditar mais e mais que sou mesmo assim:
“O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo.” (Jorge Luis Borges, O fazedor)
Não podemos fugir do tempo, não podemos dispensar sua ajuda, não podemos esquecê-lo, não podemos abandoná-lo e nem sermos deserdados por ele… porque somos o tempo. Não podemos ser outra coisa.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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