Arte e vida

Talvez a arte seja mesmo, como afirma Alain de Botton1, uma forma de terapia. E por intuir isso desde sempre é que eu me empurrei para escrever, desenhar, tocar um instrumento. Mas mesmo se a arte for “uma forma de descobrir quem somos”, isso não quer dizer que seja essa a solução simples que todos procuram — viver nunca é simples; se relacionar consigo mesmo, menos ainda.

Mas dedicar um tempo para pensar sobre o cotidiano a partir das nossas capacidades criativas tem um valor gigante. Ainda mais hoje, em uma época em que somos convidados a consumir mídia e informação o tempo todo. Eu me sinto esmagado por essa sensação de não conseguir largar a internet; e imagino que com você não seja diferente. Mas é preciso tentar.

Da minha parte, tem dias que faço algo que quero mostrar (como hoje), mas o mais importante é sentir prazer em fazer algo manualmente. Os coachs de desenho vão sempre dizer que o material não é importante, mas é importante sim. Não por ser caro, mas por ser algo que você gosta. Pra mim, o melhor lápis do mundo é um 3B da Faber; e se eu tiver um desses e um papel eu já estou de boas 🙃. Mas eu faço muita coisa ruim, mesmo com materiais legais. E aí eu não mostro. Porque também é bom ter uma parte do nosso mundo que é só da gente e ninguém no Instagram pode ver.

O mais importante mesmo (quer eu me orgulhe do que estou criando, ou não) é seguir fazendo.

  1. “A arte é uma forma de terapia, uma forma de fazer sentido do mundo e da vida. Ela é uma forma de descobrir quem somos e de encontrar significado e propósito em nossas vidas.” (Botton, A. Arte como Terapia. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.) 

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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