Aprender a olhar

Das muitas coisas que a vida faz com a gente, talvez a mais doída seja minar a nossa vontade de acreditar que existe um porquê para tudo o que nos acontece. Algumas pessoas, é verdade, continuam insistindo, e se esforçam na busca pelos sentidos e motivos. Busca inútil, que traz dor e desalento, e que pouco acrescenta a esse tempo tão curto que temos para ficar neste mundo.

Um caminho mais interessante é aprender a olhar para a realidade e para as suas circunstâncias da mesma maneira que um cirurgião precisa ver o corpo que opera: com frieza e objetividade. Eu sei que parece muito horrível ver a vida assim, mas não me refiro aqui a toda a vida e sim às coisas práticas, às coisas que não tem jeito. Diante da inevitabilidade dos fatos, da falta de dinheiro, do desejo não realizado, das coisas perdidas, diante de tudo isso: vamos analisar com frieza e entender o que podemos ou não fazer.

Enfim, diante da praticidade da vida, sejamos práticos. Vamos deixar a beleza e o encanto para aquilo que vale a pena. E vamos sofrer só com aquilo que importa. E, sim, existem momentos em que devemos nos perder e esquecer os caminhos, mas esses instantes só fazem sentido pelo contraste com aquele lado absurdo e rotineiro que não podemos evitar. E porque lutar para evitar o impossível? A boa luta, perdendo ou ganhando, é aquela em que lutamos acreditando que podemos vencer — até o fim.

Colagem feita por Alma Haser