Acaso

Sentei agora para escrever esse texto e lembrei de algo que sempre digo a mim mesmo: preciso pensar mais sobre o que faço. O curioso é que, mesmo sabendo disso, eu acabo caindo eventualmente no erro de agir por impulso ou de deixar de fazer algo só por não pensar direito. Mas será que agir assim é mesmo algo ruim?

De certa forma, acho que esse é um drama compartilhado por muitas pessoas. Queremos fazer quase tudo e, de alguma forma, sabemos que conseguimos dar conta. Mas esquecemos que viver é também ter espaços em branco, é esquecer das coisas, se ver desprevenido.

Tem dias que eu reservo pra fazer determinadas coisas, mas como não penso direito sobre como proceder, acabo me vendo surpreendido por um álbum de uma banda pra ouvir, uma série do Netflix pra assistir, uma tarde quente que me convida a descansar. E as coisas que eu planejei não acontecem. O lado ruim disso é que eu acabo ficando com a sensação de que nada aconteceu. Mas o inesperado também é um fato. O problema é que somos acostumados a não considerar a ausência como parte do processo. Afinal, os vazios da vida ainda são partes dela, como aquelas peças genéricas de quebra-cabeça que, quando isoladas, não dizem nada, mas que se não estiverem no lugar correto impedem que o quebra-cabeça fique pronto. Viver é aceitar que algumas coisas simplesmente acontecem, às vezes com algum propósito e sentido, e outras vezes apenas porque sim.

Pensar nas coisas e agir com consciência é sempre desejável. Mas coisas boas ainda podem nos acontecer por acaso, sem aviso, sem planejamento. E o que eu quero dizer é que isso não é algo horrível, mas sim comum e talvez até mesmo inevitável. Por exemplo: quanto do que você faz é fruto do planejamento e quanto é apenas consequência do momento? Se você se parecer comigo, a sua resposta vai ser mais ou menos assim: 60% de acaso e 40% de organização. Será que é isso?

Colagem de Beth Hoeckel