A incapacidade de esquecer

Não temos muitos meios para falar e refletir sobre o passado. Nosso desejo constante por novidades, nosso ímpeto por progresso e superação nos dão pouco tempo e disposição para uma análise lenta e minuciosa do que nós mesmos somos, de nossas memórias, de nossa história.

Não sei dizer com precisão se em alguma outra época as coisas podem ter sido diferentes. O fato inegável pra mim é que hoje (está vendo, só temos tempo pro agora!) temos uma incapacidade que torna a nossa vida mais fácil e, paradoxalmente, insuportável: a incapacidade de esquecer.

Mas não seria o contrário? A dificuldade não é de lembrar?

Penso que não. Vivemos com um excesso de informações, historiografias, dados e elocubrações sobre o passado da humanidade. Mas essa idolatria da memória coletiva tem um preço: o desvinculamento de cada um consigo mesmo.

Para vivermos de forma mais digna, precisamos esquecer o que somos como humanidade e como espécie. Só assim, só com esse nível de esquecimento, haverá espaço para lembrarmos o que existe de essencial em cada um de nós: nossos cheiros, desafios, cortes e desejos.

Foto de Mark Maggiori

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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