A coisa mais importante

Camus escreveu a definição famosa de filosofia que a considera como a área que coloca o problema central da existência: decidir se a vida vale a pena ser vivida. Da maneira como a questão for colocada, claro, respostas opostas podem ser consideradas válidas — e parece que nos é dada, de fato, a oportunidade da escolha.

Mas tem outro jeito de se ver esse tema. Anaïs Nin escreveu em seu diário que…

(…) “não há nada mais estranho, mais difícil de aprender do que a arte de viver. E, no entanto, para mim, é a coisa mais importante de todas. É mais importante do que qualquer coisa que você tenha realizado. Eu não sei como se consegue, mas sei que é preciso fazê-lo. Sem coragem, sem a vontade de se arriscar, se perde a si mesmo.” (Nin, A. Diário de Anaïs Nin, Volume 5: 1947-1955. São Paulo: Círculo do Livro, 1974.)

A questão, portanto, não é decidir entre a vida e a morte, mas se comprometer com a inevitabilidade de estarmos vivos. Estamos aqui, e existimos; sozinhos ou com os outros, não importa, estamos conscientes de nós porque estamos presentes. E a vida precisa ser experenciada. Mesmo sem saber como, mesmo que eventualmente sem sucesso, a vida nos pressiona e, por isso, a constatação final é mais simples (e também por isso, mais exigente) do que aquela pensada por Camus: nascemos e não tivemos a opção da não-existência. Podemos, sim, é verdade, desistir da vida, mas o verdadeiro esforço é para dar sentido à ela; para torná-la parte significativa daquilo que somos e queremos ser. A grande questão filosófica, portanto, não é se devemos viver, mas como.

Para não nos perdermos de nós, como afirma Anaïs Nin, continuamos tentando, do jeito que podemos, em busca de uma vida que seja (se não completa, pois nunca será) ao menos tranquila.

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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